Campus FESURV

Arquitetos: Sylvio E. de Podestá e Éolo Maia
Arquiteto Coordenador: Sylvio Emrich de Podestá
Programação e pré-dimensionamento: Sebastião de Oliveira Lopes
Pedagoga: Cristina Miranda Silva Araújo
Local: Rio Verde, GO
Maquete: Luiz Amarante
Paisagismo: Jô Vasconcellos
Projeto: 1984/1885
Área terreno: 3,5 alqueires

No Brasil, a universidade é parte de nossa história e nada mais real do que sua atual decadência, em um momento em que a própria sociedade para a qual foi criada – sob o jugo das pressões políticas e econômicas – passou a considerá-la como trampolim de ascensão social. Nada mais falso. O trampolim, sentindo estas pressões, e como quase todas as nossas universidades são frutos de modelos de outras sociedades ditas mais desenvolvidas, não soube se adaptar e nem mesmo detectar esta nova realidade.

Pretendemos com o nosso projeto teórico e prático retomar o homem como padrão – com suas inquietudes, seus diferentes caminhos, suas diferentes intenções – e colocá-lo frente a um grande espaço de aprendizado interdisciplinar, “relacionando-o com outras experiências, enriquecendo-o de um julgamento crítico de sua utilização  social”. Ela foi pensada como um todo, e o domínio deste todo, do plano diretor, é agente ordenador de crescimento e não censor de novas propostas e adaptações futuras, provenientes de novas técnicas construtivas, novas posturas arquitetônicas e pedagógicas. Pensada como um todo, possibilita extrapolar o crescimento proposto sem a perda da qualidade espacial intencionada.

A grande praça estabelece a dimensão e os percursos principais. Possibilita o crescimento a longo ou curto prazo, diferencia as técnicas construtivas, edifícios com características físicas/visuais compatíveis com cada atividade. Suas arcadas cobertas em seus limites nos dão o domínio da escala do conjunto. Possibilita percursos sombreados, convivência de pequenos, médios e grandes grupos isolados ou em conjunto, aproxima áreas afins ou não-afins, provoca ou ocasiona encontros. O projeto se diferencia da universidade padronizada (blocos separados por grandes espaços, perda de identidade e de convívio de grupos) e da monolítica (com longas distancias, dificuldade de remanejamento, não personalização dos espaços específicos) por apresentar percursos médios, de contorno, de penetração; percursos sinuosos, provocadores de estímulo ou paz; por adaptar-se às condições bioclimáticas, de implantação, voltada para as situações de época, valorizando o conforto para o aprendizado, seja ele disciplinar ou interdisciplinar.

Evocaríamos algumas razões para justificar nossa decisão: o baixo custo e a alta qualidade; as necessidades detectadas através do esgotamento de seus subprodutos; a desvinculação politico-partidária do processo de imp1antação (necessidade principal do sucesso do empreendimento); a valorização e o incentivo do intercâmbio técnico-cultural com outros centros e instituições.

O conhecimento de que esta nova universidade é elemento provocador de cultura geral e especifica na cidade onde está localizada, na sua micro e macro-região, com suas características únicas, tanto pela época como pelo local em que está sendo implantada, trará contribuições ao nível do ensino e da arquitetura para o Brasil e o mundo. Fará, desde que convocados outros elementos para pensá-la sempre e adaptá-la a uma nova realidade atual a futura da FESURV, modelo da nova instituição universidade e fará da cidade de Rio Verde exemplo da postura cultural e econômica que o País há muito sugere e, como nunca, hoje necessita.

Dentro destes conceitos, foram projetadas as primeiras unidades que corresponderiam à mudança imediata da estrutura existente, sua ampliação física e pedagógica e a criação de dois novos cursos. O prazo estimado do esgotamento desta estrutura física e da necessidade da retornada de novas construções foi de cinco anos, com a FESURV formada por uma população de 3.500 habitantes, entre corpo discente, docente e administrativo.    

Com área de 12.000m2, o Centro de Ciências Humanas é formado por 60 salas de aula, circulações e um grande bloco administrativo onde, provisoriamente, funcionará a Reitoria e os diversos departamentos pertinentes ao Centro. Tendo como base a diversidade de cursos e seu crescimento pontual,ou seja, de pequenos números de salas de aula por vez, e de acordo com as necessidades imediatas, este Centro foi concebido como um grande volume administrativo: rígido, com generosos espaços cobertos e ladeados por espaços de estudo e circulações esfacelados, individuais, que permitem os acréscimos acima descritos, sem a caracterização de “puxados”, tão comuns em edifícios mal dimensionados.

Esta opção é justificada pela grande maleabilidade de opções de crescimento, indo em socorro de pequenos espaços que necessitem ser incorporados ou do acréscimo de espaços médios necessários à implantação de novos cursos.

As circu1ações, formadoras de caminhos lúdicos de pontos de encontro, de anfiteatros e jardins, cumprem papel físico/pedagógico e permitem acompanhar o lento e médio crescimento. São ainda grandes estimuladores visuais e sociais, o que acreditamos imprescindível em um local de tão diversificados temas de cultura.

Afinal, a universidade brasileira – hoje formada por campi obsoletos, rígidos, imutáveis, onde blocos isolados ou grandes blocos intermináveis – elimina do convívio diário esta diversidade cultural cria as famigeradas sociedades acadêmicas, onde cada grupo usa suas gaiolas intelecto -culturais. A modificação que este conceito de projetar pode trazer é da maior importância e, em futuro bem próximo, estará contribuindo, juntamente com outros profissionais envolvidos neste projeto, para uma modificação maior: a da nossa universidade.

Estes conceitos não partiram arbitrariamente de nós, arquitetos. Eles foram elaborados depois de exaustivos estudos com toda a comunidade local em seus vários segmentos; de pesquisas e, principalmente, da tentativa de não se cometer os tantos erros que conseguimos detectar em nossas universidades.
No entanto, a Política (do politikós) deu lugar à astúcia, ardil. Pior ainda: deu lugar à politicagem (do bras. Populismo).

O Governo do Estado de Goiás encarregado, de financiar a construção desse Centro substituiu o projeto por galpões.Destruiu-se, assim, uma discussão que começava na própria concepção de que a universidade não é um projeto acabado. Ela é efervescente, absorve várias cargas das transformações sociais. Não é um conjunto de salas de aula como queriam os técnicos desse mesmo governo. É algo muito maior, muito mais interagido, muitíssimo mais sério e causador de triunfos ou sequelas irreparáveis – coisas que um governo passageiro não pode compreender. Perdemos essa luta. O arbítrio não foi enterrado com a velha República. É ainda com autoritarismo que nosso povo está sendo tratado.

Uma pena para todos – os que estão do lado de cá, e os míopes que estão do lado de lá, imaginando enxergarem sua entrada na História pela porta dos fundos.

(Transcrito parcialmente do livro 3 Arquitetos, volume II).

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