Shopping Ouro Preto

Arquitetos: Sylvio Emrich de Podestá e Maurício Meirelles
Colaboração: Jonas Schetino, Mateus Moreira Pontes e Flávio Lúcio Nunes de Lima
Projeto: 1998/99
Localização: Ouro Preto| MG
Proprietário: Cooperativa de Consumo dos Moradores da Região dos Inconfidentes
Consultorias
Mix básico recomendável: Atrium Consultorias e Planejamento de Shoppings
Consultoria técnica: Paranasa
Ar condicionado, ventilação forçada, ventilação natural: Protherm
Área do terreno: 45.000,00 m2

A publicação deste projeto interessa no sentido de prestar informações sobre as diversas abordagens que devem ser consideradas em um empreendimento desta natureza e, informar também, que shopping center não é necessariamente sinônimo de mau gosto, de pastiche, de abordagens pós-modernosas que, quase sempre, prevalecem em projetos destes edifícios.

Os primeiros shoppings brasileiros são cópias tardias de shoppings americanos principalmente da década de 60, que ainda hoje, servem, como base para projetos “atuais”.

O terreno, área de 45 mil m2 às margens da BR-356, contém centralmente um platô com 10 mil m2 ladeado por uma elevação com área aproximada, também, de 10 mil m2, tem toda sua área restante em declives com 20 a 25% de inclinação. Na rodovia frontal ao terreno, localiza-se um túnel que é parte integrante de acessos projetados pelo DER, incorporando uma nova pista que permitiria acesso direto a Ouro Preto. Todos estes fatores topográficos e de engenharia de tráfego conduziram à implantação proposta.

Estabeleceu-se uma cota ideal e geral para todo o projeto – Hipermercado e Shopping Center – baseada na maior área plana existente, também cota média da Rodovia. Esta definição gera cortes na elevação direita e aterros localizados, principalmente, na lateral esquerda do terreno cuja sondagem revelou-se impenetrável.

Estabelecido este platô principal, localizou-se primeiramente o Hipermercado na parte esquerda do terreno devido a facilidade de acesso às docas de abastecimento, acessos de serviços e outros. Como grande âncora, o Hiper estabelece assim a localização do Shopping que se inicia a partir dele, margeia o limite do platô proposto na sua parte posterior e, aproveitando sua geometria e vistas, define o local da Praça de Alimentação, outro importante espaço do projeto além da possibilidade de expansão a partir desta articulação.

As docas e parte do Hipermercado se situam sobre aterro, o que sugere a criação de um subsolo parcial onde se localizam diversos serviços como: apoio a funcionários, refeitórios, vestiários, expansão de depósitos, garagens, dentre outros, amenizando o volume de aterro necessário. Esta implantação nordeste/sudoeste-sudeste/noroeste além de dar maior visibilidade ao empreendimento, permite o tratamento bioclimático de seus espaços internos, diminuindo substancialmente o custo final do empreendimento.

O projeto partiu das seguintes premissas básicas:

a. Melhor cota de implantação em um terreno com 60% de sua área em declives acentuados;

b. Melhores condições de acessos diferenciados – serviços Hipermercado, estacionamentos gerais, estação intermodal;

c. Insolação e ventilação que possibilitem tratamento bioclimático dos seus espaços internos;

d. Visibilidade do empreendimento como um todo, principalmente da Rodovia, sendo que a localização frontal do estacionamento funciona como incentivador das facilidades que lhe convém e, definição do Hiper como importante âncora do empreendimento, com caráter próprio sem contudo estar desvinculado urbanista e arquitetonicamente do conjunto.

e. Elementos de arquitetura como coberturas metálicas plásticas e convenientes às suas funções – iluminação e ventilação zenital naturais, estética externa e interna do mall- além de torres alusivas à arquitetura de Ouro Preto, pontuando as principais entradas do Shopping e ampliando a mídia visual do empreendimento. Caixa d’água geral e totens rodoviários complementam esta visibilidade.

Externamente, além das questões técnicas, o Hipermercado tem tratamento semelhante ao do Shopping, utilizando-se de materiais mais elaborados e design arrojado, eliminando a antiga caixa/galpão, contrária aos serviços hoje fornecidos e esteticamente incompatível com o estímulo que a arquitetura deste tipo de local deve provocar. Facilidade de acessos de serviços e de usuários com estacionamentos fronteiriços e hall coberto para carrinhos antecedendo o acesso ao prédio e funcionando também como porte cocherè. Ligação interna Hiper/Shopping através de praça e portas envidraçadas provocando também estímulos e troca de público.

A sua estrutura tem modulação conveniente à implantação dos serviços e da área de vendas, com poucos pilares, facilitando lay-outs e operacionalizando a loja. A estrutura é mista (pré-fabricada nas área de serviço e check outs e metálica na grande loja) agilizando a sua construção.

Iluminação natural e artificial adequada, pisos monolíticos, cores claras, etc., criam conforto ambiental (térmico e acústico) e visual (limpeza de percurso, desenho estrutural, etc.).

O gerador da construção foi o percurso do mall que foi estudado de forma a permitir visadas múltiplas, adequadas ao seu funcionamento, estimulando e evitando monotonias, fruindo aos poucos. Sugere ruas da cidade de Ouro Preto e em particular a São José, definindo em suas extremidades praças que poderiam ser reconhecidas como “Praça do Chafariz” junto ao Hiper e “Largo da Alegria” para a Praça de Alimentação. Estas ricas analogias formais também podem ser vistas na parte externa da construção onde “casarios” compõem o corpo do Shopping e “torres” e coberturas se destacando da massa continua construída.

A bela paisagem que se estende na parte posterior do terreno é resgatada pela inclusão do terraço panorâmico contíguo à Praça de Alimentação e, em contrapartida, pousado sobre este platô, a construção também se harmoniza com a serra que ladeia a Rodovia, vendo-se ao longe o Pico do Itacolomi, símbolo natural da cidade.

A modernidade do empreendimento está neste respeito à cultura local sem, no entanto, fazer da sua arquitetura uma cópia “pastiche” mas, retirando do passado o que ele tem de rico e incorporando o marketing mercadológico, novos materiais e desenhos de arquitetura que deem suporte a estas atividades.

Com o corte na elevação localizada à direita do terreno, abre-se a possibilidade imprescindível do uso dos espaços remanescentes do terreno para o entretenimento como eventos de grande porte, carência real da cidade, aproveitando parte do estacionamento como platéia e os taludes como pano de fundo natural. Numa segunda etapa, esta área deveria ser ocupada por uma expansão planejada sendo que o estacionamento deveria crescer de forma vertical ou com a anexação de terreno contíguo.

Entre a faixa reservada ao DER e a pista de acesso aos estacionamentos foi proposta uma plataforma de espera de ônibus intermunicipal, urbano e semi urbano, com estacionamento simultâneo de quatro unidades, contendo ainda instalações sanitárias e pequenas lojas (banca de revistas, lanches, etc.).

Prevista uma implantação de maior porte em terreno vizinho ao empreendimento com criação de estacionamento para ônibus de turismo, oficinas e abastecimento.

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