1983: Casa Hélio e Joana

Local: Ipatinga, MG
Projeto: 1981/82 (em equipe com Éolo Maia)
Construção: 1983
Área terreno: 720,00m2
Área: 230,00m2

*1º Prêmio na 5ª Premiação do IAB/MG, “Habitação Unifamiliar”, 1982.

Residência para um casal jovem, com dois filhos, em uma região muito quente, conhecida como Vale do Aço, Minas.

As propostas de trabalho se basearam em uma nova colocação espacial da residência em lote plano convencional de 24x30m. A implantação cria um espaço íntimo, separado da rua por uma fachada (ou um cenário) composta de um grande arco de alvenaria e concreto, pintado de vermelho e propositalmente teatral. Assim, o interior do terreno é protegido, permitindo melhor ventilação.

Utilizaram-se métodos construtivos diferenciados, mas próprios da região: cobertura de telhas com estrutura de eucalipto roliço com altos pés-direitos na área social, facilitando a geração e dramatizando o espaço proposto; na área dos quartos, coberturas de cúpulas de tijolos, encontrados na região, concorrendo para uma melhoria das condições climáticas destas peças.

A residência é resultado da obrigação que o arquiteto tem de informar seus clientes sobre como conquistar seus sonhos e responder suas expectativas, indo além do conhecimento que ele o proprietário tem de como responder por suas idéias.

Senão vejamos.

Na reconhecida dificuldade que sempre aparece na hora das pessoas “contarem” sobre sua futura casa, o Dr. Hélio, a pedidos, nos apresentou um pequeno papel com a idéias aproximada da planta que intentava construir, o que a princípio nos parece muito saudável. Ela se localizava no lote da esquerda, reservando o outro para jardins e lazer e, além disso, gostaria de uma casa em estilo “colonial”. Nossa resposta a esta questão foi dividir este espaço em dois pátios abertos onde, em um, se cumpria as funções do lazer social, da piscina, churrasqueira, jardins floridos e pisos nobres e, do outro, o pátio do serviço, do varal, horta e pomar. A insolação ficava assim distribuída convenientemente para as funções reservadas ao sol.

A divisão era fortemente enfatizada pelo grande eixo central e circulação geral da residência que, em seu percurso, ia distribuindo acessos convenientes aos diversos cômodos anexos.
A razão de uma circulação tão extensa dizia respeito a uma contrapartida do discurso modernista, da época do projeto, quando existia um esforço enorme em eliminar ou reduzir ao máximo o corredor dos quartos (na verdade, o mercado imobiliário já chegava ao ponto de ligar a qualidade de um projeto à pequena circulação dos quartos).

Aqui, exagerava-se a presença desta circulação, fazendo dela elemento arquitetônico de forte presença que, além de sua função, ultrapassava a fachada principal depois dos limites de seu pórtico, marcando a entrada com rigidez e personalidade.

Um pequeno lavabo interrompe o olhar direto e, em arcos, a circulação, permite a existência de um duplo hall.

Logo em seguida, acesso ao estar e refeições, que contém decks/varandas, semicobertos. O grande corredor termina nos 3 quartos colocados a 45o, construídos de tijolos maciços com as paredes formando contrafortes para receber as cúpulas de tijolo necessários pela pequena flecha proposta. impermeabilizada e revestida de cimento natado com pó xadrez verde.

No seu processo de construção houve falha na armação do grande arco, o que resultou em um desenho defeituoso, enquanto as paredes dos quartos em contraforte foram refeitas pelo proprietário quando, em visita à obra, constatamos sua má execução.

Quanto ao colonial. Depois muita conversa, descobrimos: o que mais o agradava nas casas antigas eram os arcos sobre portas e janelas, vergas abatidas de madeira e/ou pedra. Prometendo respeitar esse gosto (que não é de todo ruim, sendo talvez o “desenho” mais presente, mais visível da nossa arquitetura colonial, fora o telhado), desenhamos para a casa o maior arco abatido que o terreno permitiu, sugerindo que esta grande platibanda frontal fosse parte de uma antiga e grande janela colonial.

Posteriormente foi acrescido um gradil no alinhamento dispensável em relação à segurança, que era feita pela construção: ela atingia as divisas laterais, impedindo o acesso não autorizado.

Com esta casa a quatro mãos, refizemos nossa leitura sobre casa, reestudamos a questão das platibandas, rediscutimos a circulação como elemento importante na arquitetura, incorporamos antigas tecnologias de construções de tijolo trabalhando somente sobre compressão; trouxemos de volta o uso das cores fortes em contrapartida às cores pastéis do modernismo e redesenhamos a caixa d’água, que agora não necessariamente era o volume vertical compondo com o grande corpo horizontal, mas um aplique formal no caso sobre o pórtico/arco principal, como um brasão.
Exposta na Bienal de São Paulo (1984), até hoje acreditamos que nunca um tema caiu tão bem numa exposição que explorava, exatamente, “Tradição e Ruptura”.



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