1997: Casa Paulo, Tânia e meninos

Local: Bairro Jundiaí, Anápolis, GO.
Projeto: 1997
Área terreno: 2.450,00m2
Área: 850,00m2

Algumas casas não são só moradias, são também registro da capacidade produtiva e/ou acumulativa de seus proprietários e nada mais normal do que dotá-las de potentosidades arquitetônicas capazes de registrar estas intenções, sem no entanto esquecer que seus espaços serão utilizados para receber, criar filhos, hospedar, festar.

Projetada em um terreno ponta de quadra, completamente plano, com duas esquinas, tem sua maior dimensão vizinha ao clube campestre localizado no outro lado da rua, e mais, dali se avista ao longe o planalto, plantado, e o nascer do sol e da lua. Isto de sempre se preocupar com o nascer destas duas bolotas é fundamental para ampliar o conhecimento dos seus ciclos e incorporá-los definitivamente ao saudável levantar, ao romântico vinho sob o luar e a todos os outros diversos estímulos universais que estes dois celestes promovem. A coisa já começa bem se vai por aí.

Mas, no programa surge um equipamento de difícil convívio em espaços contíguos: uma quadra de tênis e mais, de saibro, uma ocupação de 26% da área total do terreno. Esta aridez não se incorpora a nenhum paisagismo, seus necessários alambrados são detestáveis equipamentos técnicos e, o saibro, em agosto e no planalto central é um exímio produtor de redemoinhos. E mais, a quadra sempre se posiciona no sentido norte sul na sua maior dimensão. O terreno foi comprado com esta preocupação.

O projeto se inicia pelo posicionamento da quadra. Numa sequência lógica, ao seu lado arquibancadas, poucas, piscina, churrasqueira/bar e varandas. A forma de incorporar este objeto lunático, utilizado no máximo por quatro astronautas, a todo o projeto foi afundá-lo, rebaixar seu piso em 1m, elevar o deck da piscina em 1m, de onde surgem arquibancadas e, consequentemente proteção contra a rápida bola rebatida diagonalmente por aprendizes de Gugas e outros menos cotados. Protege-se também do vento formador de redemoinhos que provavelmente evitará dar tantas voltas e preferirá os pastos ao longe.
No nível real do terreno situa-se então a construção. Uma longa curva em mármore branco, com vazados para jardins, acessos inferiores e varandas superiores faz uma ligação virtual da construção ao vazio do deck/quadra, como que abraçando-o. Deste pórtico desce uma cortina d’água sobre a piscina e dali também se ilumina a quadra eliminando a possibilidade do uso de postes comuns e horrendos. Com o abaixamento do nível da quadra, os muros de divisa fazem as vezes do alambrado e paredão de treino e, ladeando a casa, uma cerca viva protege e esconde eventualmente a bolinha mas não sugere galinheiro com tela.

Muros altos frustam o acesso imediato de indesejáveis, preocupação dos proprietários e, para que recebam seus amigos com a mesma tranquilidade, as garagens se estendem por um grande pátio, com fonte central todo filme de Zorro tem- onde os diversos e incríveis carros podem estacionar.

Inferiormente, a curva se inicia no varal, segue pelos serviços, depósitos e cozinha até os grandes espaços de salas/bar/tv e refeições. Anexo ao pórtico e na parte superior, os quartos com seus equipamentos previstos. Para que os espaços de estar tivessem uma maior dinâmica, uma parte, anexa aos serviços/cozinha teve seu nível elevado como no deck da piscina- e parte permaneceu em terreno natural, fazendo variar suas alturas, posicionar as escadas (quartos e hóspedes), possibilitar grandes aberturas além de hierarquizar seus usos, introvertendo, por exemplo, a refeições sob o apartamento de hóspedes.

Pode-se notar que com tantos espaços de “receber” interligados que a casa se apresenta disposta a grandes eventos, festas diversas como gostariam os proprietários.

Escritório, estar de quarto, quartos grandes com diversos equipamentos permitem, quando necessário, o recolhimento mais íntimo e pessoal dos usuários.

Pode-se notar também que não existe um espaço de transição entre o social e o íntimo, acessado por uma grande escada curva que chega a uma espécie de varanda interna. A princípio, toda a residência estaria sempre à disposição de seus moradores, mesmo que eventualmente o som de um conjunto meloso encontrasse pela frente um vídeo do Matrix.

Um telhado de quatro águas, de telhas cerâmicas brancas acompanha a curva do pórtico. O bloco de hóspedes se apresenta como um volume rígido, plugado (mais uma vez) ao geral volumétrico da construção.

Branco no grande pórtico, no telhado, nas alvenarias. É uma imensa casa branca, de diversos brancos advindos da luz diversa que se projeta sobre a curva, das sombras pretas e densas do sol do cerrado que necessitou desta assepsia para disputar espaço com o saibro e com os verdes da vegetação, azul da piscina, céu do planalto. Meio garça.

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