
Local: Serra do Cipó, MG.
Projeto: 1992
Área terreno: 10.000,00 m2
Área: 40,00 m2
Antes de falar sobre o chalé propriamente dito, devo informar o seguinte: o Projeto Sensações (Menção Especial na II Bienal Internacional de São Paulo), foi idealizado e planejado por George Hardy e Heliana Laender de Castro Hardy. A Coordenação de Arquitetura e Urbanismo ficou a cargo de Álvaro Hardy. A participação alcançou arquitetos e artistas plásticos.
Arquitetos: Altino Caldeira, Álvaro Hardy, Cid Horta, Éolo Maia, Fernando Navarro, Rafael Capell, Graça Moura, Gustavo Penna, João Diniz, Mariza Machado, Paulo Laender, Sérgio Bernardes, Jô Vasconcellos e Sylvio E. de Podestá.
Artistas plásticos: Álvaro Apocalypse, Amilcar de Castro, Ana Amélia Camargo, Andréa Lanna, Aretuza, Benjamim, Máximo Soalheiro, Baldoni, Beto Dutra, Carlos Bracher, Carlos Wolney, Castaño, Cáudia Reanult, Fany Bracher, Fátima Penna, Fernando Pacheco, Fernando Luchesi, George Hardy, Jorge dos Anjos, Manoel Serpa, Marcela Vianna, Tavinho Moura, Marta Iglesia, Márcio Sampaio, Mário Vale, Mário Zavagli, Mônica Sartori, Paulo Laender, Paulo Schmidt, Pedro Augusto, Roberto Vieira, Sandra Zavagli e Virgínia.
Registrados todos os nomes, duas observações de terceiros sobre o Projeto Sensações, para situar suas principais características: uma, de Adélia Borges (na revista Design e Interiores no. 34, 1993); outra, de Carlos Antônio Leite Brandão:
“Dar vida e expressão à pluralidade, na arquitetura e nas artes plásticas. Unir, transgredir, interpenetrar, num mundo que tantas vezes empobrece porque prefere separar, ‘departamentalizar’. Possibilitar que a mão do homem entre num lugar de beleza superlativa, não para destruir ou profanar, mas para agregar riqueza”.
Esses são alguns pontos de partida de uma experiência inédita na arquitetura e nas artes plásticas brasileiras, que está tomando forma em Minas Gerais. Batizado de Sensações, “o projeto prevê a implantação de um ‘circuito das esculturas’, envolvendo quatro municípios, e de um misto de pousada e centro cultural, que terá assinatura de diferentes arquitetos e artistas do primeiro time de Minas, além de alguns de fora.” (Adélia.)
“A interdiciplinidade buscada entre arquitetos e artistas plásticos na elaboração dos projetos não se legitima apenas por diluir os limites a que nos obrigaram a especialização e o corporativismo geral da cultura profissional de nosso século. Ela também desloca a curiosidade do produto final apresentado para a viabilidade e dinamismo do processo em que se gera esse produto. E, sobretudo, permite especular sobre a origem e o significado das artes e da arquitetura hoje.
O Projeto Sensações é uma negação à anestesia presente na arquitetura convencional, burocrática, utilitária e dogmatizada. Ele diz ‘não’ ao caracter geral tomado pela arquitetura do século 20, lugar do sem sabor e do sem cor, como as cidades que habitamos. Daí se depreende o ‘sim’ do Projeto: ele afirma a busca de uma nova função para a arquitetura, onde, mais que espaço e beleza, evocam-se tempo e expressividade. Ele entrelaça a estética com a ética, a síntese da arte com as antíteses da vida.
As ‘cabanas’ apresentadas fazem-nos imaginar ‘cabanas’ pessoais em devaneios que, mesmo não construídos, realizam o ser da arquitetura epigrafado por Boullée. Elas recuperam-nos o ser do desejo e da imaginação que perseguimos em cada um de nós.” (Cacá.)
Feito o intróito, vamos ao chalé. Com mais uma citação: afinal, dizem que, depois do Projeto Sensações, os chalés nunca mais serão os mesmos. Pode até ser, e sendo, será uma verdade que diz muito respeito à sua concepção geral, do artista plástico e gourmet George Hardy.
Tirar sensações diversas do conjunto geral e dos objetos em particular foi o objetivo do projeto e também o meu.
Assim, fiz algo acima das árvores de porte médio, uterino como Bosch e brilhante como uma nave no cerrado.
Lembrei-me também do Capitão Nemo das 20 mil léguas submarinas, com sua nave recoberta por uma carapaça tecnológica visão da época e um interior aveludado, fofo, com poltronas, tapetes etc.
Uma longa rampa de alvenaria 30 metros e com inclinação semelhante à do terreno conduz ao útero de aço inox e vidro, assimétrico, se conformando de acordo com as necessidades: curva suave na lateral onde se localiza a escada e mais fechada, mais bojuda, para receber estar e quarto.
O volume assimétrico é instável, e para que não tombe para o lado da metade mais gorda, foi escorado por três pés desconjuntados, fixados na altura do piso do 2o.
Visões em diagonais através da estrutura revestida de vidro, incluindo teto, ligam as duas partes vedadas. Uma varanda se projeta por cima das árvores, como se fosse continuação da rampa. A descrições óbvias estão nos desenhos.
O que faltava dizer: depois de George Hardy, os clientes nunca mais serão os mesmos.