Sylvio E. de Podestá
Sabemos que somos coloridos e nossa casa é que não é.
A cor é elemento arquitetônico como o pilar, as vigas e a alvenaria. E aqui não se trata de questionamento, mas de afirmação.
Ela pode ser usada abstratamente criando quadros concretistas; ludicamente, ou figurativamente, ou de qualquer maneira todas as maneiras como temos trabalhado; ela pode ser também usada quando o referencial é a origem; o calor do povo, os pigmentos da terra, a cor do ouro das igrejas.
O pilar redondo (coluna) com a parede sinuosa. A quina, a luz e a sombra, tudo tem sua cor, tudo sugere a cor a ser utilizada. Pode ser o branco que em velocidade é a somatória de todas as cores, em paz é ao mesmo tempo silêncio e refletor a colocação, e quantidade de luz, é que fornecerão o dado.
O azul é sensual quando sinuoso e calmo (por tradição), quando plano ou abobadado como o céu. Apastelado parece suspiro de botequim; com o verde, água de rio e não é para o cubo é para a meia lua.
O vermelho no encontro agudo é agressivo como é a cor por tradição; mas no coração é amor e paixão e na retícula é detalhe, complementa e sugere.
Do amarelo temos, por leitura, que é luz, mas luz do amanhecer; depois alerta ou o ouro da bandeira. Com o vermelho (laranja), destaca detalhes do metal (indústria) e na alvenaria de tijolo (artesanato). Um pingo no azul e vira estrela. No verde, ipê florido de agosto.
E o verde? Quantos tipos! Amazônico, floral, ácido, suave, bandeira. Ilustra o jardim mas não o colore. Veste o exército mas não tem culpa da guerra. Faz salivar na tenra alface, é belo na menta com gelo à beira da piscina e suave no vidro transparente. Mas não é detalhe, é suporte para todas as outras. Negativo do vermelho, mistura do azul e amarelo, destaca com o branco, complementa com o azul.
Hoje qualquer microcomputador apresenta uma palheta de 16 milhões de cores que podem ser utilizadas simultaneamente e, pobre mortal, só falei de cinco.
“A poesia da cor é algo da ordem da síntese entre a matéria e sua expressão própria” diz Wilson Coutinho, crítico de arte. “Nem toda cor pode ser acolhida por uma forma. A forma indica a cor que será usada”, diz o artista Franz Weissmann.
Saber usar a cor é cultura, evitar é desinformação, medo.
A cor existe.