Sylvio E. de Podestá
Morar bem para mim é:
Poder desfrutar do urbano em um ambiente calmo, com vista para o sol e a lua. Poder sair à rua e encontrar vizinhos e amigos. Cumprimentar o lixeiro, a formiguinha, o carteiro. Ir a padaria e discutir o jogo do campeonato, notícias boas e más do fim de semana. Roubar muda do jardim e pendurar conta no bar.
Ter mesa marcada com os amigos do repiauer e discutir bobagem, fórmula um, bush e outros games. Dizer que prefere o bem-te-vi e não o pardal. Que as amoras sujam o passeio anunciando boa safra e as mangueiras já começam a florir. Por tela no telhado porque os abacates manteigas estão quebrando as telhas. Saber no sinal que já é época de caqui. Aprender qual ônibus que vai para o centro e que dia de feira é quarta.
Preferir a original com salada de tomate e pastel de queijo. Ver do trabalho o barulho dos meninos chegando e saindo de casa. Ver a rua e o céu, as flores roxas do bairro que se abrem em primaveras e quaresmas.
Sentir o cheiro dos temperos quando se iniciam os almoços e pensar que a casa precisa de uma pintura, uma apara nos cactos do jardim e adubo para o pé de acerola -estão caindo muito.
Colocar em ordem certa os santos que dão nome às ruas que arrodeiam e protegem a Leopoldina esquina com Cristina, o cruzamento mais feminino da cidade.
Ligar para os compadres e padrinhos pra dizer que vai ter churrasco, prometer que este ano vai de qualquer jeito a Oktuberfest e praia na Bahia.
Matar o aniversário de sábado à noite, afagar o cachorro, beijar a mulher e dormir assistindo TV.
Sylvio Emrich de Podestá, arquiteto