Olhar amadurecido

Publicado no Jornal Estado de Minas – 06/11/2008 / por Gracie Santos

Sylvio de Podestá lança hoje, no Bar 2008, na Savassi, seu terceiro livro solo, com projetos inéditos, obras apresentadas em concursos e em construção.

Conteúdo e visual são arrojados, diversificados, diferenciados. O título, tradicional, Sylvio E. de Podestá – Projetos recentes. Isso porque “arquitetos não sabem dar nome aos livros”, brinca o autor, que lança hoje sua quinta obra, a terceira solo – as outras duas foram fruto de parceria com o saudoso Éolo Maia. A noite de autógrafos, a partir das 18h, será no Bar 2008, inaugurado há quatro meses, na Savassi. A produção é independente, da AP Cultural, não por acaso, de propriedade de Gabi de Aragão, casada com o arquiteto e responsável pela coordenação do projeto.

“Por falar em nepotismo, é bom dizer que a orelha do livro é de um amigo, Carlos Alenquer, e há textos dos também amigos Cacá Brandão e Cláudio Bahia, além de o projeto gráfico ser de meu filho, Marcelo de Podestá, e a revisão ter ficado a cargo de minha filha, Rita Aragão de Podestá”, confessa, divertindo-se. A publicação (21cm x 28cm) reúne primeiramente 27 projetos, de 1991 a 2008, que Sylvio considerou maiores ou mais importantes. Na seqüência vêm outros 30, “criando uma referência para os primeiros, com obras que datam de 1989 a 2008”.

Durante a leitura, ele avisa, “pode-se perceber perfeitamente a diferença entre trabalhos feitos em parceria, até 2000, com o sócio Maurício Meirelles, caso dos prédios do Itaú Power Center e Itaú Power Shopping”. Depois, vêm os trabalhos solo, realizados no escritório do arquiteto, no Bairro Santo Antônio. “Mas tenho sempre alguém trabalhando comigo como convidado”, afirma. Os projetos, Sylvio garante, estão “mais maduros, mais calmos, tanto que o texto de Cacá Brandão aborda o tema Arquitetura e madureza, e se refere a papos que sempre temos, no bar que freqüentadores e onde não há Lei Seca, o Via Cristina”.

Sylvio diz que o que faz atualmente é uma arquitetura com menos estilo: “Não preciso mais ficar confirmando uma assinatura. Não há necessidade de todos os projetos ficarem parecidos, para que alguém olhe e diga: é do Sylvio. Não há mais isso”, garante, explicando que, agora, consegue traduzir várias outras formas de olhar partindo de um mesmo princípio.

VOVÔ – “A experiência permite que andemos por outros caminhos. Se havia algumas dificuldades técnicas, hoje elas praticamente não existem. A gente vai ficando mais avô e até a forma de tratar o cliente muda”. Outro diferencial da publicação Sylvio diz que está no projeto gráfico do livro, que ficou a cargo do filho, Marcelo de Podestá, formando em comunicação. “Ficou mais bonito, com visual mais trabalhado”. Para ele, arquitetura é como religião. “É como se tivesse recebido uma plaquinha de Deus, dizendo vai Sylvio, trabalha. Gosto muito, mas também faço isso porque tenho que pagar contas; caso contrário, era capaz de ficar na praia o dia inteiro” (risos).

Entre os projetos do livro, o arquiteto destaca os seguintes: do Câmpus Lagoa do Piau, no Vale do Rio Doce; o Câmpus Pampulhinha, em Teófilo Otoni; o Memorial Chico Xavier (“um prédio pequenininho, da Fundação Chico Xavier, de Pedro Leopoldo); a torre de controle de lavação dos trens do Metrô BH; o Allegro, um piano-bar (“uma forma de Ouro Preto entrar no século 21. Instalado ao lado do Grande Hotel, terá também a função de continuar o Festival de Jazz, como espaço permanente do gênero musical”); além da Cidade do Avião e do Museu Aeroespacial Santos Dumont, em Jacarepaguá, Rio”); o da gráfica Rona, no Bairro Ouro Preto; e até uma garagem de barcos em Furnas.

“Tudo pode ser publicado”, avisa Sylvio, completando que estão registrados projetos enquanto obras e outros que, mesmo sem ser construídos, servem para dar continuidade a discussões sobre arquitetura, inclusive projetos apresentados em concursos, nenhum vencedor. O arquiteto cita ainda dois “predinhos” e casas em condomínios, “mas nenhum empreendimento imobiliário”. Crítico contumaz da falta de criatividade na maioria dos projetos de edifícios da cidade, ele diz que, atualmente, “melhorou a qualidade” e explica o motivo: “Quando a oferta aumenta surgem outros critérios para diferenciar. Há um certo cuidado. Alguns profissionais substituíram os mais novos e algumas firmas se uniram a outras mais dinâmicas, e têm outro olhar. Quase todas estão ligadas a algum grupo paulista”.

Assim, “fora os nomes horrorosos que se vê no mercado imobiliário, a situação melhorou, caso da oferta de serviços complementares, por exemplo, agora mais consistentes. Da tenda de massagem passaram a oferecer quadras, por exemplo. Grande problema enfrentado tem sido o alto custo dos condomínios, alguns variando entre R$ 1,8 mil e R$ 3,8 mil. Mas isso vai baixar”, prevê, dizendo que, futuramente, vai prevalecer uma visão correta do mercado, que, no momento, está inflacionado.

Estado de Minas – 06/11/2008
por Gracie Santos

Marcado com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *