Arquiteto: Sylvio E. de Podestá
Local: Osasco, SP
Área: 15.000,00 m2
Projeto: 1991
O espaço e sua contextualização urbana
O projeto para o Concurso de Idéias para o Paço Municipal de Osasco procurou contextualizar o dinamismo econômico e político que marca o município, reunindo para si o papel não só de espaço público coletivo, mas também de marco significativo de sua emancipação e autonomia. Nesse sentido, a escritura arquitetônica surgiu através de uma reflexão sobre as diferentes relações entre os componentes do projeto, funcionando como elemento estruturador do quadro urbanístico e como marco simbólico da região. Assim, a linguagem do Paço se baseou nas diferentes relações entre componentes como: modo de produção, pontos programáticos, usuários e contextos econômicos, técnicos e culturais que integram o universo simbólico local e regional.
Em termos urbanísticos, os elementos identificadores da imagem de projeto representam um ponto de dualidade e diálogo. Na medida em que o seu espaço assume papel de marco simbólico, procura uma distinção e um destaque na paisagem urbana. Por outro lado, corresponde a uma síntese urbana e atua como lugar não só de continuação das atividades urbanas, mas também como complementação das mesmas. Nesse ponto, reúne a própria dualidade do espaço urbano, assegurando sua distinção através desta integração, dialogando de forma significativa com seu entorno.
Ao considerarmos a evolução urbana de Osasco, constatamos que sua formação se deu com base na forte centralização exercida por São Paulo, mas que veio se fragmentando na proliferação industrial local, que exerceu papel desintegrador não só a nível econômico, mas atingindo o âmbito político e sócio-cultural. Nessa dinâmica, consolidou-se, nas últimas décadas, o centro urbano de Osasco, baseado no crescimento e diversificação do setor terciário. Sua ocupação também foi fragmentada por barreiras físicas: Rio Tietê, E.F. Sorocabana, Via Metropolitana, e sua realidade urbana e política passa a exigir uma autonomia e uma referência simbólica.
E é a implantação do Paço Municipal que deve responder a essas necessidades prementes, colocando-se como principal centralizador, que organiza e referencia a malha urbana, ou seja, pretende-se com sua implantação que o prédio se transmute na cidade, que a cidade esteja presente em todos seus lugares e que ele imprima todo o seu sentido instância pública por excelência. Nosso projeto constitui-se num conjunto de signos que condiciona sua imagem no imaginário coletivo. É nesse universo simbólico que este novo espaço proposto começa a existir.
Montagem do projeto
O projeto tem como ponto de partida exercer o papel de principal referência urbana, centralizando e determinando as práticas sociais urbanas. A solução arquitetônica tem como parâmetro principal a idéia de que a arquitetura enquanto imagem urbana se transmuta em objeto político, cultural e artístico.
O objeto estético é formado por imagens dialéticas que se interpenetram, mas não se completam. Se por um lado a experiência arquitetônica está baseada numa dinâmica interna própria onde o que conta é a autonomia e também os condicionamentos do sujeito criador, por outro lado a arquitetura é um fato social condicionada pela realidade vigente. É relevante considerar como nosso projeto se situa e se edifica dentro dessas relações ou da conjuntura presente.
Enquanto elemento estruturador do urbano, o fator localização do terreno foi o primeiro ponto considerado na elaboração do projeto. Este se situa junto ao centro tradicional de Osasco e é dotado de fácil acesso tanto a nível local como regional.Sua condição ótima de localização assume caráter de dualidade quando se coloca como espaço mediador de vias locais, regionais e estaduais. Esse fato indica diálogo dos espaços com estas interfaces da experiência urbana.
Essa “comunicação” da área e a lei de uso do solo vigente nas regiões contíguas, nos levou a uma ocupação horizontal em detrimento a verticalização. Os fatores que justificam essa opção podem ser observados detalhadamente na proposta, ou seja: 1) em um primeiro plano, o espaço horizontal não violenta a paisagem contígua e, na simplificação das formas, o transformamos em espaços dotados de sentido; 2) ao se evitar a monumentalidade, priorizou-se a singeleza espacial, sendo que caberá a este espaço organizar e se tornar suporte de todas as suas atividades potenciais; 3) ao se optar por este partido e volumetria como também pela organização dos pontos programáticos, pretendeu-se fazer deles fatores indutores de sociabilidade, integrando-os de forma efetiva na vida urbana.
A ambigüidade e dualidade próprias dessa proposição indicam que anteriormente o poder público, que anteriormente exercia apenas funções políticas e institucionais, acabou por adquirir também papel de mediador social reproduz a vida urbana, subassumindo funções e serviço cotidianos através da possibilidade de continuação dos serviços existentes ao longo da via local. Os Pilotis se torna também espaço de transição, uma vez que sugerem o papel de abrigo e de boas vindas ao morador da cidade, conduzindo-o à virtualidade do lugar proposto no projeto.
Em relação à implantação, cabe destacar que foi considerado, além do zoneamento das áreas contíguas, o caráter do sistema viário. Devido ao potencial metropolitano da via lindeira à fachada leste, recuamos expressivamente a construção no sentido de criar distanciamento para o bloco central da intensa funcionalidade do tráfego e, com este grande recuo, viabilizar um maior destaque do prédio, conotando o seu prestígio e singularidade na paisagem. O vetor norte/sul que corresponde às extremidades do terreno está próximo de uma confluência de vias e, ali, uma massa arbórea protege o micro sistema ambiental e funciona como estacionamento, equacionando o grande fluxo de vias e automóveis.
A horizontalidade pelo eixo de maior comprimento do terreno também se deu devido à melhor orientação e ventilação local. A fachada horizontal acompanha a paisagem das vias de ligação que, ao recuperar a idéia de caminho e espaço de mediação entre centros significativos, rompe com a monotonia e opacidade do cenário, atingindo uma distinção.
Na organização dos espaços, a área se encontra articulada por polarizações: o Auditório, a Praça Pública, Câmara Municipal, Estacionamentos e Marco Principal. Através destas polarizações, a ambivalência se representa na proposta: ao mesmo tempo em que o Paço exerce papel local institucional, oferece atividades e espaços culturais como auditório, exposições, anfiteatro, atingindo a Câmara Municipal onde são formulados e definidos os destinos da cidade.
Centralizando esses pólos, a Praça Cívica reúne a virtualidade inerente ao domínio público lugar da reivindicação, da transgressão, propício à fruição da festa. O projeto, portanto, ao integrar as atividades urbanas, complementa-as, contribuindo para que o local se transforme em fator atrativo enquanto organismo político, lar comum onde se discute política, se formam opiniões, tornando-se pólo de atração, lugar de encontro, onde se passeia ao ar livre, se fica sabendo das novidades, constituindo uma comunidade em que é possível o exercício da cidadania, condição essencial da liberdade coletiva.
Se é área privilegiada por conexões urbanas, o projeto, ao ser implantado, incorporará tanto uma dominância ótica como uma dominância tática, comportando uma dupla recepção. Enquanto o Paço, planejado, viabiliza e estimula uma demanda de uso local baseada na potencialidade dos seus pontos programáticos, atinge também o âmbito da atenção e contemplação. Reafirma sua eficácia simbólica através do marco implantado no centro da área, monumento síntese da grandeza e prestígio do município.
O programa foi cumprido e ampliado, adequando-o às exigências contemporâneas. Os pontos programáticos, além de contemplarem a prestação dos serviços públicos regionalizados, atingem a condição de centro de consumo cultural e de lazer. A horizontalidade adquire relevância na medida que reforça a idéia de sociabilidade: as circulações horizontais facilitam e, ao mesmo tempo, promovem o encontro, a comunicação e a troca, transmutando-se num indutor existencial. Propusemos, mediante a idéia arquitetônica, um objeto estético constituinte de uma unicidade que figura e compõe a imagem do mundo cotidiano. É por ela que Osasco vai construir e gerir a sua destinação.
O Projeto
Composto por três blocos funcionais e um elemento simbólico (prédio administrativo, Auditório, Câmara Municipal e Marco), o conjunto urbano arquitetônico apresenta soluções de fluxos horizontais e verticais gerados pelo programa administrativo cultural e cotas de níveis estudadas em função da geologia do terreno e possibilidades técnicas de instalação de infraestruturas.
Subsolo a 1,50m com fluxos de veículos rápidos e desimpedidos, cria com seu afloramento uma plataforma (+1,10) que recebe todo o pilotis aberto e fechado – com suas funções administrativas/culturais e contemplativas. As cotas 0,00 e 1,10 apresentam sugestões adequadas às prestações de serviços descritas como: foyer/exposições junto ao auditório e como este, possibilidade de funcionamento independente; anfiteatro sob o plenário completando as atividades possíveis da praça cívica; praça cívica propriamente dita, larga extensão potencialmente sugestiva; bosques/estacionamentos com sombras e recantos e, ao longo da via Narciso Esterline, pracinhas e pontos de encontro na escala local.
Dois andares administrativos coroados pelo gabinete do prefeito, com vazios disponíveis para futuros remanejamentos complementam o bloco horizontal. O bloco da Câmara, volume compacto e compositivo tem, além da sua função de plenário, apoio e galerias, um palanque virado para a praça cívica de onde se fala e se ouve o povo. Bom!
Todos estes elementos, além de sua função específica, além de participarem da implantação como componentes lidos, articulados ao todo da composição, apresentam revestimentos diferenciadores e reafirmadores de suas funções: o pavilhão horizontal de concreto, vidro e brises é alegrado pelas pastilhas de vidro azul do auditório; a Câmara, revestida de chapas de metal bronze, fixa na sua cor e na sua importância coletiva completa-se com o marco simbólico, em mármore branco.
Estruturalmente, construção convencional, em etapas, desenhada sobre malha de 8x10m com pequenas vigas intermediárias; pequenas cargas sobre o lençol freático do local convenientemente estudado; luz zenital para as circulações do bloco horizontal, condicionamento mecânico dos ambientes de trabalho e otras cositas más.
Na época, baseado nos nomes dos jurados (Carlos Eduardo Comas, Cezar Galha Ribeiro Bersgstron, Eduardo Luiz de Almeida, Cezar Ribeiro Jaguaribe e o quinto, indicado pelos concorrentes), lançamos o seguinte grito: São Comas suba na Galha do Almeida que lá vem o Jaguaribe e o Quinto. Não adiantou.