Local: Bairro Santo Agostinho, Belo Horizonte, MG.
Projeto: 1986
Área terreno: 450,00m2
Área: 350,00m2
O projeto em questão diz respeito à arte atividade pela qual nós, arquitetos, devemos nosso maior respeito.
A pergunta que se coloca então é a seguinte: como criar, para a arte, espaços estáticos e dinâmicos que permitam sua exposição com toda a merecida dignidade?
Primeiro e acima de tudo: considerar que a arquitetura é uma atividade que vincula, ao seu racionalismo construtivo, o lúdico, o abstrato, o figurativo, o formal e todos os outros da arte; e mais, que a arquitetura é parte de utilização percebível da própria arte.
Dei-me assim abertura para o uso de luzes, cores e volumes, numa tentativa de incorporar este uso às atividades a que se propõe o novo espaço sem competir com as eventos que ali acontecerão e, ao mesmo tempo, dando ao espaço vida digna quando vazio e silencioso. Ainda mais quando é Anamélia que vai ali expor e se expor. Portanto, trabalhar e trabalhar; fazer e mostrar para nós, leigos e ávidos, o quanto é possível nos realizarmos com esse trabalho.
O projeto está apresentado numa seqüência de desenhos. Estes, através da colocação dos elementos em planta chegam até o momento de compor o projeto final como um jogo de armar; e se encerram com três desenhos que representam a história do lugar ou da arquitetura do lugar.
Não foi construído, mas é sintomática a percepção das modificações pela qual Belo Horizonte veio e vem passando. Como toda cidade, BH é um organismo vivo onde as pessoas vão caminhando junto com sua história.
No acervo da “casa” conseguimos o primeiro projeto para o lugar, datado de 1950, já em pleno período modernista. O que vemos é um típico exemplar de uma arquitetura cheia de citações, que nos remete a casinhas espanholadas ou coisas assim, com detalhes em massa e ferro, arremedos de uma utilização falseada: exemplo, o barrado em pedra simulando talvez uma fundação/baldrame. Um gradil baixo e escalonado, jardim fronteiriço dizendo da tranqüilidade urbana da época. A garagem na lateral, como um “porte cochère”, completa o projeto.
Logo em seguida, 1958, e representado pelo segundo desenho, uma mudança radical transforma a casa em “casa modernista” com tudo que o estilo tem direito: paredes revestidas de cerâmicas esmaltadas horizontais, criando frisos; pilar “pé-palito”, no lugar de um nome melhor; esquadrias com sugestivas divisões; guarda corpo das varandas e terraços laterais em tubo, como nos navios e, finalmente, uma platibanda escondendo o telhado de amianto. Observa-se também, na parede interna da varanda, três frisos metálicos, como desenhos, quebrando um pouco a superfície lisa e plana. Uma pequena alusão ao antigo gradil, agora em tela, compõe o conjunto. Internamente pouco mudou. Na lateral, a garagem é rebaixada e criam-se dois terraços laterais.
Em 1986, 28 anos depois, a casa requer nova intervenção pavimento inferior e fundos, sendo que há tempos já não funciona mais como residência (semi-adaptada que foi para escritórios). Necessita agora, para absorver suas novas funções de espaços livres, iluminados, ricos e no caso do atelier muita luz e altos pés-direitos. Também precisa mudar de cara, estar mais de acordo com seu novo tempo e sua nova função.
Nesa proposta, o jardim fronteiriço, de há muito em estado lastimável, transforma-se numa arquibancada onde se pretende expor esculturas; lateralmente, se desdobra nos degraus de acesso à galeria. O afastamento lateral esquerdo é coberto com uma abóbada de concreto, ampliando o salão da galeria. Uma grande parede em diagonal reforça a entrada, conduzindo os visitantes para o interior da galeria; ao mesmo tempo, também dá passagem para a garagem e o acesso ao atelier propriamente dito, localizado nos fundos. A parede, semi-demolida na sua parte superior, serve também para fixação de outdoors convidando para as atividades que ali seriam realizadas, numa posição favorável ao maior fluxo de tráfego; ela se estende por toda a diagonal do salão de exposição, em pórticos vazados, servindo de suporte para quadros e tela de projeção do pequeno auditório/anfiteatro. Os pilares da construção original são ampliados, e em grandes cilindros azuis fazem a releitura da antiga estrutura. Os banheiros, com frisos cerâmicos preto e branco no piso, a parede posterior e a porta espelhada fronteiriça aos vaso sanitário nos reportam à optical art, num rebatimento infinito.
O antigo barracão de fundos transforma-se em suporte do atelier, incorporando uma pequena biblioteca/escritório, copa, depósito e forno cerâmico. O atelier, com um grande pé-direito e longas esquadrias, se abre para um jardim que se pretendia minimalista, silencioso.