Local: Condomínio Pasárgada, Nova Lima, MG.
Projeto: 1998
Área terreno: 2.000,00m2
Área: 150,00m2
Desenhar uma casa muitas vezes é como desenhar um quadro. Posicioná-la no terreno como um gesto na tela, compor com os limites do lote uma composição concretista, cheia de marcas, eixos, manchas, espaços preenchidos e vazios. Essa casa começou assim, com um desenho forte, dominante na tela topográfica, compondo lugares, permitindo pictóricas retículas, prevendo usos.
O terreno localiza-se num lugar chamado Pasárgada. Lá sou amigo da Graça, sou amigo do Pedro e do João.
Nele desenhei uma longa curva, que cria uma espécie de concha: nela, no seu côncavo, protegido, localizamos quartos, estar, deck e piscina para o melhor sol e a melhor vista. São soluções irmãs, esta e a da Casa Beatriz Dantas e meninos.
O grande muro, arco de curva, se amplia através de árvores localizadas na sua sequência, reforçando ainda mais o desenho da área do terreno reservada para as aberturas e convívios da residência.
Como em tantas outras, sua implantação faz com que se categorize os espaços remanescentes: horta/pomar, acesso e estacionamento, jardins/deck/piscina, setorizando as diversas funções externas.
Esse grande muro suportará os grafites dos filhos, ou funcionará como concha acústica para o som da bateria; poderá mudar constantemente de cor, de textura, de humor, criando uma dinâmica temporal no objeto/casa ou referenciando nas fotos de família o tempo do registro.
Interrompendo a curva, pelo lado convexo, um volume em forma de paralelepípedo contém hall de entrada, despensa, lavabo e serviço. Deste mesmo alinhamento e em sequência: cozinha, balcão, estar, varanda/deck e piscina. Acompanhando a forma da curva, duas alas/circulação levam aos quartos que se abrem para os jardins através de varandas/pérgolas.
Um simples descritivo não diz da arquitetura: ela necessita ser desenhada. Desenhada para o prazer do contemplar, do dar vontade de passar a mão, do ir caminhando junto pelos percursos sugeridos, sentindo a diferença do muro e do vazio, do construído/dominado e do espaço in natura; do extravasar seus limites funcionais e incorporar desenhos e arabescos, frisando seus rebocos toscos e pigmentando seus pisos de cimento.
Com a inclusão dos móveis, tapetes, quadros e lembranças, fragmentos dessas interferências surgem por detrás, complementando o conjunto e dando sobrevida à arquitetura.