Local: Bairro Columbia, Nova Lima. Minas.
Projeto: 1980
Construção: 1980/1982
Área terreno: 360,00m2
Área: 260,00m2
Apesar de estar situada em loteamento periférico, com belíssima vista para a reserva florestal da Mata do Jambreiro, o lote tem as dimensões urbanas de 12x30m. A solução, também um tanto urbana, eleva o observador por sobre os telhados “coloniais” do Bairro Columbia e, nas suas cores vermelha, azul e amarela, contrasta com o verde natural da região. O vermelho é a casca, o azul a polpa. Colocada à venda por motivos românticos e particulares, foi pintada de branco e ficou tristemente branca, igual. (“3 Arquitetos”, volume I).
Este projeto tem grande importância na minha vida profissional e particular. Percebi o quanto é importante para as pessoas a conquista do seu espaço, do seu canto. O que quase sempre procuro fazer é que elas se expressem além da questão física da casa que pretendem construir; ir mais longe do sala/copa cozinha/banheiro pois, como já disse, programas mudam pouco de uma situação para outra: o que muda é o que cada um quer desse espaço, desse lugar. No caso específico, as aspirações foram colocadas por escrito e me permito, mesmo sem autorização, transcrevê-las.
“A casa em que quero morar eu só sei sentir e falar. Escrever é difícil. Do estilo, não sei qual o que quero. Só sei olhar e gostar! Não gosto de ‘coisa’ muito convencional, nem muito moderna. Internamente gostaria de colocar minhas antiguidades. Portas, janelas, revestimentos de parede, pisos, com detalhes rústicos.
A fachada não sei! O Sylvio sabe! Um jardim pequeno, florido, mas que não dê trabalho.
A garagem, talvez passando por baixo e para dois carros. Além da garagem, quero um quarto de empregada (para duas, talvez com cama beliche em alvenaria) e mais um quarto para um chofer ou para guardar bicicleta etc. e uma pequena lavanderia.
A cozinha bem rústica, talvez com tijolo queimado e com um pequeno depósito (despensa).
Parte social: gosto de receber amigos, mas amigos como eu, sem frescura, bem à vontade, tipo sentar no chão e, se tiver afim, dormir também por lá.
A ‘sala de visitas’ não é para visitas. É para nós. Gostaria de uma lareira pequena ou então compro um daquele fogãozinho antigo.
A sala de jantar deve ter um tamanho médio pois vai ser usada desde o café da manhã até às tantas da madrugada., por isso gostaria de uma boa circulação. Preciso de uma salinha de tv e acho que uma estante de alvenaria com madeira seria interessante, um ambiente bem interessante com almofadas soltas.
O piso desta parte social deveria ser bem rústico e prático na limpeza talvez ardósia ou algo similar. Gosto também de desníveis entre os ambientes.
Preciso de quatro dormitórios, sendo que três não tem muita necessidade de serem grandes. Cada um para um filho. Cama, armário embutido e alguma coisa a mais como um móvel, uma penteadeira ou uma estante. O meu quarto pode ser um pouco maior. A minha cama deve ser maravilhosa (ela vai ser feita de uma grade de porta antiga). Tenho uma penteadeira antiga.
Se possível, gostaria de ter um pequeno móvel para estudar (acho que uma poltrona bem gostosa para ler), um armário grande ou um closet só para mim.
Os banheiros devem ser dois: um para os meninos com possibilidade de banheira e um para o meu quarto. Carpete nos quartos???
Varanda é imprescindível, se possível cabendo uma rede.
A piscina deve ser pequena com divisão para criança e adulto (uma só). Gramado em volta dela. Uma pequena churrasqueira, um lugar para o cachorro. Cachorro é importantíssimo. Devem ‘pintar’ uns três cachorros por lá.
Será possível 1m2 de horta? Sylvio, estou querendo o paraíso dentro de 360m2?
Faça o possível, pois a minha imaginação caminha muito mais na frente, Vou curtir aquela casa acho que para o resto da vida. Quero que meus filhos se sintam bem e que não tenham necessidade de ir para outro lugar.
Quero que todos gostem tanto de lá quanto eu.
Quero me sentir no campo mas ao mesmo tempo na civilização. Quero acordar todo dia com o cheiro de verde no meu nariz e com o Jambreiro nos olhos.”
Provavelmente a arquitetura não é capaz de responder a tantos sonhos. Mas é capaz de permitir sua explicitação e dar espaço para que eles possam ser sonhados tornando o ato de abrigar esses momentos sua função principal.
Pode-se perceber, neste projeto, que os espaços foram propostos em espiral, vão se interligando em diferenças de níveis: começa no primeiro estar, sobe para o segundo, refeições/cozinha, estar íntimo e quartos e, finalmente o quarto/sótão. Esta sequência de pequenas subidas criam uma inter-relação entre os espaços que mesmo abertos, como é o caso do estar íntimo têm sua independência e ao mesmo tempo possibilidade de acesso (um bom exemplo é a ponte: partindo deste mezanino, acessa a varanda superior, mas antes anuncia que alguém está a caminho).
Uma caixa d’água superior (anexada posteriormente com minha autorização), liberando espaço para o sótão sob o triângulo da cobertura, me faz pensar até hoje porque não arrumei solução melhor. Revendo as fotos, ela me faz doer a alma.
No mais, este produto chamado na época de aldorossiano, faz parte da minha procura em desenhar as casas para seus proprietários mas, sempre incorporando aos seus sonhos, outros caminhos.