1980/98: Casa Gaby

Local: Bairro Santo Antônio, Belo Horizonte, MG
Projeto: 1980
Construção: 1980
Área terreno: 300,00 m2
Àrea:50,00 m2

Essa pequena residência, incrustada entre duas outras, em terreno com violenta queda no sentido frente-fundos, apresenta características especiais de projeto e construção; foi criada para a desenhista industrial Gaby de Aragão, dentro de um orçamento tão reduzido que o tempo de obra aproximadamente um mês se tornou tão importante quanto a escolha dos materiais: 1000 blocos de concreto 14x19x39cm, 700 telhas de barro, 5 terças de madeira, tudo bem contado.

Um dia ficou pronta, pintada de vermelha, como fruto maduro. Depois azul… (“3 Arquitetos”, volume II, 1986.)

Iniciar a segunda parte do livro com a casa da Gaby é transformá-lo em diário profissional e particular. E essa é uma das intenções explícitas, pois em todos os projetos aqui publicados incorporarei, como forma de ampliar e compreender as razões dos próprios projetos, a relação que existiu em paralelo com os diversos clientes.

Começo, portanto, com esta cliente particularmente importante e sua pequena casa.

Com um dinheiro e um lote recebido de herança, Gaby se propôs a construir uma casa e para tanto contratou um amigo arquiteto. Sua intenção inicial era construir duas moradias, sendo a inferior para alugar e a superior para dividir com uma amiga. Projeto pronto, ela me pediu uma avaliação em relação ao custo, programa etc. Me lembro vagamente do projeto, algo em torno de 80 a 85 metros quadrados, com vários ângulos a 45o, bastante compartimentado, telhado de telhas coloniais, arquitetura semelhante à que vinha sendo feita nos condomínios afastados de Belo Horizonte.

Não como crítico de arquitetura, mas como mal-intencionado rapaz, deplorei o projeto e sugeri que fosse morar sozinha, e numa casa que apresentasse uma forma de morar mais parecida com a sua maneira de ser. Fui para uma casa em Mateus Leme (cidade próxima a Belo Horizonte) e, no fim de semana, projetei a Residência Gaby I (Niemeyer fez o Cassino da Pampulha em uma noite, então pensei…), legalizamos na Prefeitura e rapidamente a construímos.

A construção contou com cálculo de Hélio Chumbinho para fundações e para a laje maciça do quarto mezanino; com pingadeiras e rufos em telhas coloniais do depósito do escritório do Éolo Maia; amostras de cerâmicas e azulejos de todos os escritórios conhecidos que revestiram cozinha e banheiro, formando belíssimo patchwork; aberturas fixas em vidro 20mm de antiga mesa da Ninya Aragão (que se quebrou por uma dessas causas desconhecidas); armário/guarda roupa fabricado na marcenaria de Tavinho Moura; paredes desenhadas numa dessas noites por Marcos Fonseca, Mário Vale e Marcos Benjamim, o Benja, e inaugurada com ótimas festas.

No processo da construção, apaixonei-me pela proprietária e, perdidamente enlouquecido, encerrei longo namoro passando a conviver neste espaço que logo se tornou pequeno com a chegada do Pedro, nosso primeiro filho.

Um pouco antes de sua demolição, e construção da Residência Gaby II, ali foi realizado o último programa “Bazar Maravilha”, de Tutty Maravilha, Mário Vale e Marcelo Xavier, com a presença de Luiz Eymar no sax, surgindo por trás de um pé de romã e Tutty todo exuberante, vestido de Odete, personagem principal do Bazar.

Pintada de vermelho e com suas cores se estendendo até o muro da rua, amarelo, e antes que alguém o pichasse, escrevi ali a frase “A Cor Existe”, como que para mostrar que somos coloridos e nada impede que nossas casas também o sejam. Por algumas vezes, mães acompanhadas de seus pimpolhos perguntaram se ali era uma escolinha maternal pois era nela que seu filho queria estudar. Hoje, mix machines por todos os lados e, finalmente, cores. Muitas cores.

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