TRT Sede Tribunal Regional do Trabalho

ARQUITETOS SYLVIO EMRICH DE PODESTÁ; HUMBERTO HERMETO PEDERCINI MARINHO; FERNANDO LARA; IGOR MACEDO

COLABORAÇÃO

CÁLCULO ESTRUTURAL HÉLIO CHUMBINHO

LOCALIZAÇÃO GOIÂNIA, GO

ÁREA DO TERRENO 450,00 M2

ÁREA DO PROJETO 2.380,00 M2

PRESENÇA E SOBRIEDADE

Quando se discute a justiça no Brasil, são muitos e quase sempre conflitantes os argumentos. Mas apesar de todas as atribulações, a instituição “poder judiciário” tem desempenhado um papel fundamental na construção das instituições democráticas, em todas as suas modalidades e instâncias. E em especial a Justiça do Trabalho se destaca pela presteza e operacionalidade, sendo reconhecida pelo seu efetivo papel de mediadora dos conflitos entre capital e trabalho. Diz a sabedoria popular que no Brasil duas varas judiciárias funcionam excepcionalmente bem: a de família e a do trabalho.
Foi com esta idéia em mente que nos debruçamos sobre o desafio de projetar o conjunto de edifícios para o TRT 18ª região. Dada a complexidade do programa e a necessidade de interromper o mínimo possível o funcionamento atual da instituição, nosso projeto se pauta por dois conceitos principais: Presença e sobriedade.
No plano simbólico, entendemos que a justiça deva sempre buscar o mais alto grau de transparência para que a aplicação lei se faça de maneira mais democrática possível, mas ao mesmo tempo num ambiente de sobriedade e respeito ao bem comum. Por isso é necessário que a Justiça se faça presente, que se coloque como referência no espaço cívico urbano.

Este respeito à coisa publica começa pela inserção adequada do edifício no entorno urbano. Nossa proposta propõe recuos generosos em relação à Av. T1 e à Rua T-29, buscando amenizar o impacto de um edifício desse porte, respeitando assim a escala da vizinhança, o que confere uma leitura da região indefectível.
Assim, uma grande barra medindo 36 x 147 x 25 metros se coloca transversalmente no meio do terreno, congregando em um só volume as (partes do programa que estão ali)… A criação de pavimentos que orientem algum tipo de ocupação foi evitada. Para garantir versatilidade à edificação foram projetados pavimentos livres.

Ao longo da barra desenvolvem-se dois generosos recuos que numa (terceira) fase serão transformados em bosques abertos ao publico. As arvores neste espaço ajudam a transformar o microclima da edificação, permitindo que o ar resfriado da sombra das arvores circule pela edificação, diminuindo significativamente a necessidade de condicionamento artificial. Além disto, o volume principal elevado permite o acesso do publico pelo pavimento térreo que se assim se desdobra em uma grande praça publica.
A presença prometida no conceito do projeto se alcança com uma volumetria de caráter forte e um tratamento diferenciado das superfícies externas, como um bom argumento: claro, direto, de fácil compreensão. O edifício se coloca de forma objetiva e eficiente diante das condicionantes do terreno, do programa e da construção em etapas.
Com a configuração de dois bosques nesses recuos procuramos ainda criar espaços verdes que não só gerem qualidade ambiental ao bairro, mas também reforcem o caráter público da instituição. Tal caráter público é ainda acentuado pelos grandes pórticos de entrada que alem de servirem como referencia simbólica do edifício, marcando sua presença, ajudam a negociar a transição entre a escala do complexo e a escala da vizinhança.
A fim de manter uma postura em alinhamento com o desenho urbano hoje encontrado, implantamos o edifício mais alto alinhado à Avenida T1. À situação hoje existente tal disposição se integra sem ser agressiva, e ainda possibilita devido ao tratamento proposto a definição de marco urbano integrado à volumetria da Avenida.
Sobre as determinantes principais de projeto (a manutenção do edifício existente e a ordem de demolição do conjunto) buscamos uma extrapolação: a construção proposta é viável sem que haja demolição inicial, viabilizando o funcionamento integral do TRT (tal qual atualmente) durante a obra.
O edifício proposto se apropriará do existente (a ser mantido), mas sem que haja interrupção de serviços ou relocação temporária de pessoal e equipamento. O edifício a ser mantido foi então “embrulhado” com um revestimento mais eficiente de forma a se inserir no novo conjunto de forma harmoniosa.
Alias, o revestimento do edifício em placas de mármore estruturadas de forma independente transformam o conjunto em um marco para a cidade em termos de identidade e tecnologia de construção e inserção ambiental. As placas são intercaladas de forma a permitir ao mesmo tempo a livre circulação do ar e o controle da incidência solar, aspectos fundamentais para a construção no tropico úmido.
Nossa proposta parte então da criação de espaços ambientalmente qualificados de forma a,refletindo o caráter da instituição que abriga, ser exemplo para a cidade.
Com baixíssimo consumo de energia (pouco ou nenhum uso de ar-condicionado e boa incidência de luz natural difusa), captação de águas pluviais, qualidade da ambientação (controle de umidade, utilização dos ventos dominantes, orientação solar).
A proposta contempla também a adoção de sistemas construtivos, elementos de vedação e proteção e disposições espaciais virtuosas quanto ao desempenho energético e economia de recursos, tanto na etapa da construção quanto ao longo da vida útil do edifício.

ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO, ESTRUTURA E MONTAGEM

Um edifício a ser construído em etapas de forma a permitir remanejamento das funções hoje existente no local; ocupação parcial e finalmente, demolição e remanejamento do térreo, subsolos, etc., é sempre uma operação de logística sofisticada.
A sede do TRT funciona em um complexo de edifícios inadequados e que não se interagem urbanisticamente, arquitetonicamente e com seu caótico fluxograma. Corrigir definitivamente estas questões e dotar o TRT de um edifício definitivo é a máxima deste concurso e é o edital que propõe uma construção em etapas de forma a não interromper integralmente as funções hoje precariamente ali existentes.
Sugere um formato de construção, uma ocupação inicial a partir da demolição de um bloco onde funcionam varas, oposto ao novo edifício. Esta opção levará sempre à solução de um grande bloco ortogonal à avenida e pela proximidade com a rua, esta densa ocupação nos pareceu inadequada enquanto possibilidade de integração com o bairro (escala, volumetria).
Frente a esta sugestão, imaginamos que o prédio do TRT, futura e emblemática construção para uma cidade que a cada dia se moderniza, também poderia investir numa estratégia de ocupação diferenciada, baseada em uma tecnologia de construção que envolvesse não só soluções de engenharia e arquitetura mas uma nova logística de ocupação de substituições semelhantes, cada vez mais comum em cidades que revêem seus formatos de ocupação, verticalizando-se quase sempre, com canteiros de obra tão sofisticados quanto a própria construção.
Sugerimos então a criação de uma construção sobre todas as existentes, ocorrendo sem nenhuma demolição inicial, com todo o complexo funcionando, aproveitando-se apenas dos vazios existentes entre o conjunto construído.
Para este tipo de estratégia, a estrutura sugerida compõe-se de perfis laminados metálicos, parafusados, lajes sobre armações tipo “steel deck” e paredes tipo dry wall (cimentícias ou de gesso cartonado) com tratamento acústico, como opção macro, além de shafts funcionais, coberturas multiuso (energia, água, conforto térmico) dentre outras.
O prédio segundo o termo de referência – “a demolir”, hoje ocupado com as varas 7 a 13, poderia continuar funcionando ou ser remanejado para ser o escritório e almoxarifado da obra como mostra a ilustração. Observar que as ilustrações tem caráter informativo geral e não dimensional, ou seja, alguns componentes secundários foram omitidos visando a visualização genérica do processo construtivo proposto.

AS ETAPAS ENTÃO SE DESENVOLVERIAM DA SEGUINTE FORMA:
1. Remanejamento do prédio das varas, com aproveitamento de suas instalações, como escritório da obra (se esta for a opção);
2. Criação de corredores de serviços entre os edifícios construídos através de tapumes e acertos de níveis;
3. Locação e perfuração de estacas rotativas ou tubulões, fundações já consagradas pelo uso em edifício até 10 andares existentes na região;
4. Concretagem das estacas e dos blocos de fundação;
5. Montagem de grua com lança até 60m;
6. Montagem dos pilares com dimensões finais acima da maior cota dos edifícios existentes;
7. Montagem do primeiro nível de vigas;
8. Montagem do “crash deck” com balanços laterais por sobre apoios metálicos de forma a permitir uma construção sem que nenhum tipo de interferência física possa ocorrer no funcionamento dos edifícios existentes;
9. Montagem do segundo nível de vigas e pilares, configurando uma primeira estrutura estável capaz de vencer os vãos propostos (vigas quando estabilizadas entre si, conformam um sistema vierandel que se repetirá no andar acima, estruturando as 3 primeiras plataformas (decks/lajes);
10. Concretadas as lajes 1,2 e3, que fazem parte do sistema, estabiliza-se a estrutura, repete-se a estratégia de montagem a partir da terceira laje que funciona como um pilotis intermediário, criando-se mais dois conjuntos ou andares e cobertura onde se localizarão os equipamentos propostos de coletores solares e de águas, caixas d´águas e a cobertura propriamente dita.
11. Instalações de circulações verticais e demais instalações complementares,
12. Fechamentos e divisões, acabamentos diversos.
13. As etapas seguintes até a conclusão final da proposta seguirão etapas convenientes, sendo que os dois edifícios de varas podem ser demolidos para que sejam iniciadas as construções de estacionamentos, auditórios, jardins e parte do pilotis.
14. A continuação do bloco é feita com a demolição dos edifícios da presidência. Completada esta etapa já é possível a demolição de todos os outros edifícios, complementação dos espaços térreos e modificação e acréscimo do edifício existente, também com estratégia semelhante, envelopando-o e acrescentando três novos pisos, dando a ele porte compatível em relação ao grande edifício horizontal proposto, dramatizando sua perspectiva urbana.
15. O conjunto resultante é totalmente eficiente no que diz respeito a funcionabilidade, e é resultado de um processo limpo e adequado de construção, sem ruídos permitindo que o TRT cumpra integralmente suas funções enquanto as obras ocorrem acima e, mais importante, presenteia a cidade comum grande vazio urbano, adequadamente tratado com jardins e espaços sociais. Os acesso em todos os momentos se fazem com a eficiência devida. Os tratamentos bioclimáticos mostram sua eficiência proposta além de darem aspecto final de acordo com a imagem arquitetônica procurada pelo TRT.

O LUGAR

Inserir um objeto arquitetônico em uma malha urbana consolidada requer conhecimento principalmente o que diz respeito a cidade, sua história, expansão, nova legislação, mudanças e remanejamento de conceitos urbanísticos, demandas, requalificação, enfim, o que mantêm a dinâmica sua dinâmica.
Goiânia é assim. Projetada e reprojetada, procura sua identidade metropolitana e para tanto carece de ícones, marcos urbanos e arquitetônicos. É claro que uma avenida como a Anhanguera (preferível Arariboia) com seus generosos espaços vazios permitiu experimentos (ver Lerner), reacertos e se prepara para receber, quem sabe em breve, um metrô/bonde de superfície, pela grama, de forma que no caminho norte-sul e sem cometer os erros de cidades como Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, possa conviver com um transporte limpo, sem necessidade de um muro divisório, cicatriz urbana desnecessária.
É nesta cidade jovem, onde Paulo Mendes da Rocha projetou o Serra Dourada, Jóquei Clube e a Rodoviária monumental (posteriormente corrigida), Rui Othake colocou suas curvas ainda singelas em um edifício bancário, só para citar alguns, que agora promove, em pleno Setor Bueno, a inserção de um edifício institucional que sem a pressa dos primeiros, procura cuidar das características do local, pensando em um futuro onde escala, áreas de convívio, vazios ajardinados e construído com princípios contemporâneos de sustentabilidade, induzindo assim os cuidados que daqui para frente deverão nortear seus novos espaços.
Tratado desta forma, o edifício do TRT contribuirá definitivamente como marco urbano, arquitetônico, tecnológico e principalmente pensando no cidadão que desde o princípio sabia que nesta terra de árvores tortas, terra boa, maçapê, visitada por Anhangueras e Strauss, em se plantando corretamente, tudo dá, bem.

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