ARQUITETOS SYLVIO EMRICH DE PODESTÁ; MARÍLIA LILA DALVA M. CARNEIRO
COLABORAÇÃO PEDRO ARAGÃO DE PODESTÁ; MARCOS MASCARENHAS FRANCHINI (ESTAGIÁRIO)
LOCALIZAÇÃO OURO PRETO, MG
PROPRIETÁRIO JARBAS EUSTÁQUIO AVELLAR E DANILLO AVELLAR
ÁREA DO TERRENO 8.872,31 M2
ÁREA 181,00 M2
Se somos estatística e realisticamente urbanos, desaparece a formatação básica para se inserir um objeto em uma malha urbana canonísticamente falando, ou seja, não devastamos a terra,ou pelo menos não deveríamos, para que o novo possa se apresentar como o novo.
É claro que para alguns consagrados e alguns lugares oficiais, abrem-se espaços memoriais, em esplanadas oficiais, minas ou pontas de cabo branco, terras planas e altiplanas, lisinhas, para que grandes objetos tenham paz na sua solidão institucional.
Outros, mortais, convivem com apertos, bastando ver os brises spadonicos do novo prédio paulista que miram os antigos tijolos makenzianos (citado pelo batido das horas) ou pelo enterramento politicamente “providencial” do Teatro da Orquestra de Minas que se pretendia menos silencioso, mais arquitetura e menos adega, para citar apenas dois exemplos atuais.
Essas necessárias conversas entre os diversos sujeitos já implantados num conjunto urbano,cada vez mais se amplia na sua factibilidade sugerindo também um maior envolvimento de todas as partes que compõem os conselheiros das cidades, sejam eles representantes do povo enquanto eleitores, enquanto cultura, enquanto participativos associados, ongs, etc.
Órgãos são criados para nos representarem, ambientais, patrimoniais, auditores de intervenções possíveis em substituição a juízes da chibata ou a políticos afoitos. Algumas vezes somos ouvidos, outras terraplanados.
Quando a cidade tem mais histórias do que outras, mais amplo é o discurso da previsibilidade concedida, do andar para frente com o olhar para o que passa e passou. Temos em Minas cidades assim, muitas, cheias de coisas, de vida, de hojes e de futuros presentes e Ouro Preto é uma delas.
Nela, o Allegro, pequeno objeto a ser construído entre o novo parque urbano e o Grande Hotel, juridicamente ligado a este último, foi ouvido com a pertinência devida, oportuna, sob forma de consulta, submetido à apreciação, apreciado e encaminhado com recomendações, mas de forma geral, possível, atual, de acordo com o século XXI.
Aparentemente recolhido sob um manto verde para que sobrevivam os velhos e novos telhados, quinta e importante fachada da cidade vista por cima (como todas são, só que menos cuidadosas), se incrusta na íngreme topografia qual cristal ou pedra lapidada, em inflexões transparentes de forma a compor espaços de estar, ouvir e ver através de, por dentro, permitindo a troca entre o que está e o que é visto de maneira total. Estrutura afiada, fina, invisível; materiais quentes, pedra, madeira e gente formatam a inserção.
Um piano bar para uma cidade que se consagrou com um incrível festival de jazz, dentre outras consagrações, poderá estender este e outros sons pelos dias afora.
Quem conhece Ouro Preto, devem ser quase todos, sabe que sentar e ver de cima, de lado, lá debaixo é sempre o prazer maior. Sentar a ver o tempo passar pelas janelas ou, agora, pelos vidros do Allegro, é dar tempo ao tempo, é acrescentar à experiência turística ou local estímulos proustianos, inconfidentes e confidentes.
Allegro me.
Arrimos em concreto revestidos de pedra filetada contêm a topografia recortada caracterizando o incrustamento e embasando em forma circular do pavimento térreo. A partir dele e sobre ele, perfis tubulares metálicos e perfis “I” também metálicos compõem a trama, opção conveniente para ângulos agudos e diversos e transparência procurada que se completa com fechamento em vidros laminados anti-reflexo, como fachadas cortinas, fixados por spiders metálicos ou introduzindo marcos de alumínio quando necessárias aberturas (portas e/ou janelas).
Pisos em lajes com forma tipo steel-deck, revestidos e forrados de madeira, esquentando o ambiente e eliminando o toc toc do caminhar, fornecem o travamento necessário para o pavimento nomeado mezanino e para a laje de cobertura, dupla, duplicando o cuidado com as águas do teto verde, acústica, sol que só é permitido por um período no fim da tarde, esquentando o ambiente para a noite.
Balcões de madeira ondulados, sugeridos pelos proprietários numa espécie de resgate de uns balcões curvos desenhados por Niemeyer para a recepção do Grande Hotel, fabricados, utilizados por um período e substituídos pelo atual. Sutil referência, acatada com o devido recato. Coisa para ser contada.
Os acessos, feitos a partir do pilotis do GH ou após a ladeira junta a Casa dos Contos são, a partir daí, todos acessíveis, normativos, uma novidade numa Ouro Preto que funciona acima dos 8,33%, o que constatamos sempre quando compomos o bloco carnavalesco Balanço da Cobra, cujo percurso vertical se faz da Igreja do Pilar à Praça Tiradentes. Um talude gramado receberá jardinagem em escala compatível com a proximidade das pessoas, alegrando os terraços externos resultantes dos acertos topográficos em contrapartida a imensa e bela paisagem verde do parque lindeiro.
Por ali, pisos de quartzito (casqueiros) irregulares e guarda-corpos bancos.