Local: Ipatinga, MG
Área: 3.200,00 m2
Projeto: 1995
Texto: Ângelo M. Fahes
Autores: Sylvio E. de Podestá, Saul Vilela e Eduardo Lascasas
*3o Lugar em concurso promovido pela USIMINAS
Procuramos conciliar as demandas dos três principais agentes que interagem no espaço a ser criado: a cidade, a empresa e o homem. Cada um destes agentes impõe requisitos e necessidades, agindo o Centro Cultural, em um primeiro momento, como elemento de convergência, de síntese de suas relações de interdependência e, em um segundo movimento, como pólo irradiador da ação cultural nele desenvolvida. Por este motivo o conceito de centro não poderia ser mais apropriado para a edificação proposta sendo que o partido do projeto simboliza esta dinâmica.
Esta concepção baseia-se na percepção de que Centro Cultural deve representar para a cidade muito mais que um espaço físico que abrigue atividades culturais, mesmo que algumas delas sejam em caráter permanente. Representa tanto, porque ocupará espaços, desempenhará papeis que, em outras cidades, são desempenhados por outros elementos que conferem a elas parte de suas personalidades.
As cidades planejadas, em geral, sofrem do problema de sua conformação física ser decorrente da vontade, das razões e argumentos de seus idealizadores e projetistas e não de uma práxis de convívio urbano que a molda com o passar do tempo através da incorporação das influências de sucessivas gerações de habitantes.
Ipatinga, jovem cidade, carece de referências simbólicas outras, tão fortes quanto a usina, razão de sua existência e que, ainda hoje, induz sua enorme taxa de crescimento.
Entretanto, se por um lado a cidade representa uma estrutura urbana fragmentada, pouco polarizada e com poucas referências espaciais significativas, por outro, ela soube construir sua personalidade cultural ao longo de seus 37 anos, personalidade esta que requer e demanda um “locus”, uma referência. A história da Cidade está umbilicalmente ligada à da empresa, sendo esta a mais forte presença no cotidiano das pessoas.
Ao dotar Ipatinga de um Centro Cultural, a Usiminas apenas revela outra faceta desta relação, devendo o Centro ser, no âmbito cultural, não menos do que é a Empresa na economia da cidade: sua mais importante referência.
Seus investimentos em educação, e em outros setores da comunidade local atestam a plena consciência de seu papel numa sociedade moderna, de sua importância na criação de um micro-ambiente sócio-econômico-social saudável em sua área de influência.
Entende que uma atitude paternalista de suprimento das carências do poder público cede lugar a uma relação mais saudável com a sociedade, uma relação de parceria para o crescimento mútuo. Cabe a nós contribuir para que este projeto se atenha a seus objetivos de contribuir para o aprimoramento do Homem, seu habitante e inspirador, consciente de que não há educação sem cultura.
O Centro Cultural USIMINAS
O partido explora os elementos simbólicos contidos no conceito de centro, inclusive aquele que o relaciona, em muitas cidades, com o local da grande praça pública, palco de todas as atividades importantes.
Sua implantação respeita os espaços em torno, reverenciando a natureza (o rio, a mata) e preservando o uso comunal já consolidado (feira de automóveis), disciplinado a ocupação existente e criando outras áreas de sociabilidade na forma de clareiras na arborização direita do edifício.
A ampla praça frontal, situada simetricamente em relação ao eixo da avenida, abrigará atividades externas. A verticalidade, com função referencial, está presente na forma de um marco em aço, plantado em seu centro.
Da avenida, temos a visão da praça principal e da mata, emoldurada pelo vigoroso pórtico de entrada. Atravessando-o, descortina-se a visão do parque, contextualizada pelo grande espaço de convivência formado por este pátio/praça.
A praça interna, ao mesmo tempo um espaço aberto ao convívio, provê abrigo às atividades ali desenroladas. Cria-se o clima das praças das seculares cidades européias (Praça do Sol em Madri, praça de Urbino, etc.) podendo-se de seu interior experimentar duas sensações: magnificência e aconchego.
De seu centro faz-se a escolha, podendo se dirigir para qualquer dos espaços/atividades disponíveis. À direita, um espelho d’água se insinua, sugerindo um caminho para o anfiteatro, que se debruça na encosta do Rio Piracicaba, numa atitude de reverência e ousadia. A abertura da praça para o Parque enquadra a perspectiva num sentido fotográfico, ressaltando a beleza da mata, destacando-a de um contexto, emoldurando, ao mesmo tempo em que integra o observador, capturando sua atenção como uma pintura, espaço da observação, da contemplação e do devaneio.
À direita do espelho d’água, pode-se descer para o pátio das esculturas que se estende sob a biblioteca, no corpo do edifício circular até seu limite externo. Na ala esquerda eleva-se o teatro que, com seu perfil retilíneo, um contraponto para a forma circular.
A utilização do aço como material principal, usado na estrutura e no revestimento reforça a ligação simbólica do centro com a cidade. Usou-se a estrutura em aço no que ela tem de melhor, sua capacidade de vencer grandes vão possibilitando formas ousadas, como um elemento não impositivo, mas domado, curvado à vontade da forma.
O pórtico de entrada é exemplo deste conceito. Sua estrutura oculta, trabalhando como um todo, como uma ponte, permite vencer 53 metros de extensão sem que se torne explícita sua presença como elemento estético.
À esquerda, um grande pilotis que precede o teatro onde se localizam o bar e a lanchonete, a livraria, bilheterias, foyer e acesso à administração. À direita, os salões de exposições, biblioteca e acessos às escolas de arte (dança, música, fotografia, etc.), estúdios e atelieres.
Ainda dois acessos secundários: o primeiro, com entrada controlada, destina-se ao estacionamento e pátio de serviço, entrada de artistas e de serviço. O segundo, conduz diretamente à ala onde está localizada a entrada da biblioteca, sendo destinado principalmente a estudantes e funcionários.
Da técnica
Ambas as edificações são estruturadas em perfis de aço em módulos de 6 metros de comprimento, de forma a dar aproveitamento máximo ao produto da Usiminas. A criação do espaço circular se dá sem a necessidade do uso de calandra nos elementos estruturais, diminuindo o custo da execução. O revestimento é feito com chapas de aço (inox para o edifício principal e SAC 49 para o teatro e serviço). O inox possui excelente coeficiente de reflexão da radiação solar e é mal condutor de calor, minimizando a transmissão de calor para o interior.
Atenção especial à questão da ventilação procurando adequá-la ao máximo aos aspectos climáticos de Ipatinga. A região apresenta um clima de dupla personalidade, com condições adversas, exigindo, como proteção dos espaços internos, um total divórcio das condições externas.
Predominantemente quente e úmido, com invernos agradáveis, tem como principais fatores negativos: sol forte que favorece a irradiação dos materiais, devendo os ambientes internos estarem completamente protegidos; poucos ventos, com baixa velocidade e calmaria principalmente no verão; umidade relativa alta, tornando difícil o resfriamento.
Adotamos o uso de espaços abertos integrando exterior com interiores, protegidos do sol e da chuva; uso de painéis operáveis; escolha de orientação mais favorável; uso de brises de proteção; varandões; bloqueio das irradiações de sol através de materiais construtivos; máxima proteção da cobertura com uso de materiais isolantes térmicos, superfícies externas de cor clara e ventilação de ar sob o telhado; promoção de saídas de ar nas partes mais altas da cobertura e ventilação noturna permanente; indução de ventilação.
Um esquema de ventilação onde a corrente de ar lava todo o prédio, isolando, com um colchão de ar, pisos, tetos e paredes externas, impedindo a entrada do ar quente do exterior. A indução da ventilação é feita através de áreas negativas de insolação e incidência e uso do exaustor eólico. Para o teatro, sugerimos o uso de ventilação forçada por insuflamento de ar através de dutos e ventiladores. Um sistema passivo de resfriamento deste ar insuflado seria sua captação via dutos enterrados com abertura de entrada localizada em zona densamente arborizada. Este sistema se vale do fato da temperatura abaixo do solo ser constante e bem mais baixa do que a temperatura ambiente. A imensa capacidade térmica do solo (apresentando baixa temperatura) pode ser usada para este resfriamento.
Conclusão
Acreditamos que o projeto cumpre o objetivo de criar uma referência forte para Ipatinga, emprestando do aço seu elemento simbólico e integrando-o ao imaginário do homem, ao transmutar-se, ao mesmo tempo, em monumento e em espaço de intensa vivência, palco da celebração e da criação do futuro.
Arquitetos