Local: Jardim Canadá, Nova Lima, MG.
Projeto: 1997.
Área terreno: 1.080,00m2
Área: 350,00m2
A mata foi loteada e, em dois mil metros quadrados, projetada a residência. O local apresentava uma densidade de árvores de pequeno e médio portes de 1 exemplar/2,5m2.
Um eixo imaginário, divisão dos dois lotes que compõem o terreno, nos leva a uma grande gameleira localizada no final do terreno. Sobre ele, uma passarela coloca o observador ao nível da copa das árvores, levando-o à casa, ao quiosque e à grande árvore.
Mesclaram-se cúpulas e abóbadas de tijolo com telhado de telhas de barro.
Eliminou-se da obra o concreto feito no lugar, utilizando de lajes pré-fabricadas, permitindo um controle maior sobre a qualidade final da obra, localizada que está em local afastado.
O texto acima (publicado inicialmente no “3 Arquitetos”, Vol. I) simplifica em demasia as questões que envolveram este projeto e as relações com seu futuro morador, como podemos perceber através de uma carta onde ele se manifesta de forma concisa e poética:
“Finalmente arrumei coragem para tentar tirar de dentro (da cabeça, eu acho) as idéias da casa onde gostaria de morar por algum tempo.
Neste instante estou assistindo televisão, mas não é exatamente o que preferia fazer, talvez isto seja um ponto de partida para tentar imaginar o que uma casa onde cada tijolo tenha sido colocado com amor e com o esforço de amigos e meu próprio, me proporcionaria nesta hora.
Flores para cuidar, um visual que entrasse pelas janelas, qualquer coisa assim que lembrasse a todo momento que existe vida e que ela própria criasse as forças de movimento harmônico e integrador. E depois, que houvesse um lugar para meditar sobre a beleza do todo em paz.
Gostaria de falar de cores e formas, mas não me é muito fácil. Eu curto as cores mas não faço muito pra que elas me O Rui é um deste amigos que um dia ressurgiu. Apareceu depois de longa hibernação e mais, querendo um local para sua casa, seu atelier fotográfico, horta, oficina de marcenaria, biblioteca e novos amores. Fumando Galaxi, dirigindo uma Parati e com um belo e grande terreno no Jardim Canadá, que devidamente apresentado, foi a forma de reatar encontros. Primeiro um atelier, ali depois uma casa que no decorrer das conversas se unem num programa híbrido, mais de acordo com sua filosofia e custos.
Este projeto participa conceitualmente da proposta do Atelier Paulo Laborne, ou seja, diluir o grande volume do estúdio através do acoplamento dos diversos outros espaços menores. Formalmente se desenvolve de maneira diferenciada, com um grande volume em cunha que se pulveriza em duas alas e se solta do solo, apoiado em duas grandes colunas, permitindo o aparecimento de formas curvas ou em ângulos em torno de 40°, rompendo a grande massa, em paredes maciças ou aberturas e, interrompendo, quando necessário categorizar acessos e entradas.
A região é toda minério de ferro, difícil de movimentar a terra, de perfurá-la, de plantar. Com topografia levemente ascendente em relação à frente do lote, dispomos os primeiros espaços em dois pequenos níveis para que o piso do salão, necessariamente plano, acontecesse sem grandes cortes na parte posterior. Mesmo assim, estes cortes fizeram aflorar cangas que foram utilizadas empilhadas no muro frontal.
A mesma terra que fornece a canga também fornece um pó finíssimo, avermelhado, que se espalha por todo o bairro o que nos levou à escolha da cor dominante dos grandes panos de alvenaria a algo semelhante a do minério.
A construção tem internamente grandes áreas em relação a todas coordenadas, como o alto pé direito do estúdio e, mesmo não sendo metricamente imensa, teve gastos superiores aos previstos e, tecnicamente, suas áreas impermeabilizadas e esquadrias metálicas não foram definitivamente a parte positiva do projeto, necessitando reparos posteriores. Acabamentos internos mais definitivos, como pisos e revestimentos de parede, a parte de madeira, estão sendo incorporados dentro de um cronograma factível.
Alguns outros problemas ou de ordem construtiva ou de ordem intergaláctica estão sendo definitivamente corrigidos, gerando um certo desgaste mas, quando resolvidos, aproximam a idéia inicial da proposta do projeto e é também uma espécie de “banho de descarrego” que permite ao proprietário estímulo para conquistar definitivamente seu espaço integro e funcional.
Construção de casas, da própria, faz parte do nosso processo de vida, da nossa forma de veer a vida, por exemplo, pinçando fragmentos do texto “Arquitetura, Cidade e Fotografia”, de autoria do Rui, publicado no número 03 da Revista AP, podemos destacar: “(…) a fotografia é capaz de gerar renderings praticamente instantâneos um estranho ready made combinando natureza (raios luminosos) e cultura (visão, intenção)”; “A natureza da fotografia reside na riqueza de detalhes, na clareza da descrição espacial, na finesse das linhas, massas e volumes”; “Toda fotografia de arquitetura deve administrar as variáveis da luz, selecionar um ponto de tomada, conceber o espaço tridimensional e gerar um temperamento. A administração destes valores deve ser tal que produza uma imagem de alto poder descritivo” ou nos dizeres de Marlius DeZayas, para quem a “fotografia é a verificação plástica de um fato”, entre outras, chegamos a conclusão que em certos momento o que a fotografia propõe se assemelha fortemente ao que devemos procurar em um objeto arquitetônico como a “clareza da descrição espacial aliada à riqueza de detalhes”, a “finesse das linhas , massas e volumes”, “administração das variáveis da luz, do ponto de tomada e na concepção do espaço tridimensional, além de gerar um temperamento” entre outras coisas. Mas em uma coisa a fotografia é radicalmente diferente da arquitetura, é a sua capacidade de gerar “renderings instantâneos”, impossível num objeto arquitetônico que, como as catedrais, necessita de seu tempo possível dentro das suas múltiplas variáveis.