ARQUITETOS SYLVIO EMRICH DE PODESTÁ; HUMBERTO HERMETO PEDERCINI MARINHO; FERNANDO LARA
CALCULO ESTRUTURAL HÉLIO CHUMBINHO
LOCALIZAÇÃO BRASÍLIA, DF
ÁREA DO TERRENO 13.100,00 M2
ÁREA 33.780,00 M2
CONCURSO PÚBLICO NACIONAL DE PROJETO
A estratégia do projeto foi buscar um edifício que gerasse e estruturasse seu próprio espaço, da mesma forma que as ciências geram e estruturam seu próprio conhecimento.
Um edifício que resultasse principalmente do foco do programa, ou seja, a ênfase,no capital humano que irá usufruir desse espaço de trabalho, encontro e aprendizado.
O resultado formal de destaque ao usuário e suas interações cotidianas é a ocorrência de um pavimento principal elevado sobre quatro conjuntos de colunas servindo de suporte e circulação vertical permitindo total flexibilidade de uso e espaços internos, além de incentivar a máxima agilidade de organização interna dentro desse pavimento (a lâmina principal toma de empréstimo algumas das qualidades excepcionais da arquitetura moderna brasileira: a sombra e a transparência no uso correto das visadas e da luz). Destaca-se no caso a absoluta ausência de paredes fixas nas áreas de uso permanente, sustentada pelas vigas superiores por onde descem os núcleos de instalações sanitárias que, junto aos tirantes propriamente ditos, localizados de acordo com a malha de 8 x 8 m, sustentam a laje de piso. Enquanto as lajes de forro e piso formam o enquadramento da paisagem horizontal da escala da cidade (com vistas para o congresso até o lago Paranoá), a lâmina trabalha também de forma a sombrear e proporcionar um condicionamento natural para os espaços térreos.
A estrutura em concreto, apoiada superiormente em quatro conjuntos distribuidores de circulação vertical e horizontal, proporciona espaços livres e fachadas internas e externas totalmente envidraçadas, protegidas por grandes brises que dão passagem à luz natural e vistas da paisagem macro (cidade e entorno) ou da micro, cuidadosamente tratada por paisagismo Esse desenho ambiental e paisagístico alcança seu ápice no grande espaço central, formado por uma série de espaços “sociais” com alturas variadas, água e vegetação, caminhos e paradas, permitindo a distribuição natural do ar fresco que sobe através do seu centro aberto. Outras aberturas menores e devidamente localizadas completam um sistema natural de ventilação que pode ser controlado por aberturas programadas que ampliem estes fluxos naturais, diminuindo a dependência ao ar condicionado do edifício quando comparado com outros inteiramente fechados.
Este grande espaço central é formado por uma abertura ovóide em ambas as lajes, ampliando-se no sentido superior/inferior no intuito de contribuir para o aumento da proteção solar (grande beiral) sem impedir a vista que provoca a ocorrência do pátio interno o que,além de permitir uma melhor ventilação natural e distribuição da luz, como citado anteriormente, traz para dentro do edifício o encantado céu de Brasília.
O pátio central funciona como um hall ambiental e de interação visual e física de todos os espaços de trabalho que ali convergem trazendo para a rotina do “escritório” as variações provocadas pela vegetação e pela água, pelo sol e pela chuva, pela sombra variável ao longo do dia e das estações e pelo vento.
Mesmo com as calmarias de março quando a grande sombra produzida pela lâmina superior, cujo intervalo entre esta e a edificação térrea possibilita áreas de pressão atmosférica negativas e positivas que ampliam a qualidade do controle bioclimático de toda a edificação, criando diferenciais de pressão externa que serão explorados para impulsionar fluxos de ar de ventilação natural.
Desta maneira o edifício está constantemente sendo “lavado” em todas suas faces diminuindo a carga a ser condicionada.
om a possibilidade de iluminação controlada (sombreada) em todos os ambientes, reflexos da insolação são drasticamente reduzidos e tem-se uma leitura completa da estrutura funcional do edifício proporcionando alto grau de transparência a nível não apenas de visadas, mas também em termos de gestão do espaço e suas funções.
Abaixo desta lâmina principal situam-se uma série de espaços de suporte a nível térreo como o auditório e a lanchonete/restaurante, cujas formas escultóricas além de criarem uma textura e uma variação no solo, em contraste com o rigor formal da lâmina elevada, funcionam ainda como um grande hall de recepção do visitante. Desta forma, além da desejada separação natural entre os espaços abertos ao público e aqueles exclusivos dos funcionários, a localização dos espaços de reuniões/auditório/restaurante permite o funcionamento independente desses de forma a não interferir na rotina de trabalho da CAPES mas ainda funcionando como fonte geradora de renda extra para a agência ou serem utilizados por outras autarquias e repartições federais.
Distribuímos então o programa de forma racional e funcionalmente coerente com o fisiograma procurado, ou seja, na grande lâmina superior localizamos todas as diretorias (de Programas no Exterior, de Programas no País, de Avaliação, de Conteúdo e Orientações Curriculares e de Tecnologia Educacionais), seus suportes sanitários e circulações horizontais e verticais. Entre a lâmina superior e o térreo temos o vazio/jardim/pátio central, com funções que promovem as interações dos espaços públicos com os acessos e entre os espaços funcionais quando cedidos a uso de terceiros.
Coberto por esta laje verde e inclinada, como que recompondo a superfície do terreno original, localiza-se o auditório, café/foyer, hall principal e restaurante com deck suspenso sobre o pátio/jardim a guiza de terraço. A partir daí uma seqüência de níveis descendentes moldam este espaço que se encerra em um grande espelho d´água umidificador necessário ao clima seco de Brasília.
Pelo lado oeste, fechando o pátio/praça, localizamos estrategicamente a Diretoria de Gestão (única ausente da lâmina superior) que é por excelência formada por espaços administrativos (Pessoal, Finanças, Informática e Logística, além do Administrador do Prédio) separada por dois lances de escadas (localizadas em duas das torres de circulação vertical) das diretorias acima e com a independência necessária a realização de suas funções.
Abaixo as salas de reuniões, acessadas tanto pelo hall principal até seu hall privativo de acesso a pessoas externas quanto diretamente pelos pavimentos de Diretorias através dos núcleos de circulação vertical privados. Em anexo, garagens e dois pavimentos com mais vagas necessárias.
Enquanto modulação de garagem, uma malha garante espaçamento correto entre pilares para as vagas e também para os espaços divididos ou múltiplos para as diversas funções a que se destinam.
Esta estrutura inferior se encerra na “cobertura verde” sendo contínuo apenas os vazios onde se localizam os quatro pontos de circulações verticais, formados a princípio por quatro grande pilares de concreto interligados por vigas horizontais estabilizantes, que ultrapassam o vazio entre os pavimentos inferiores e a lâmina superior, bifurcando no sentido dos balanços laterais e formando os apoios únicos desse bloco horizontal que seguem até a laje de forro, na qual a malha protendida se pendura todo o piso do andar. São nos vãos entre vigas onde se abrem as zenitais por onde penetram suaves luzes naturais rebatidas por planos inclinados, estrutura/calhas, vigas secundárias; e onde nascem os tirantes juntos aos quais descem as instalações sanitárias além do grande vazio central, desenhado de forma a permitir o maior ou menor acesso ao sol (borda fechada para o norte e aberta para o sul e em diagonal para leste e oeste).
Uma estrutura de comprovada eficiência, simbólica e representativa da nossa competência na construção de objetos de caráter contemporâneo e de construção do nosso futuro enquanto objeto de engenharia e de arquitetura com leitura permanente, flexível, iconográfica e que venha a suportar futuras e novas leituras tanto de maneira funcional como programática.
No edifício como um todo o uso do concreto como material principal de estrutura das lajes e revestimento nos remete à linguagem do modernismo brasileiro
Nas áreas externas imediatamente vizinhas à lamina sombreadora, o paisagismo juntamente com cortes e inflexões nas lajes acima dos subsolos de garagem conduzem a uma variação de níveis que protegem alguns espaços enquanto dirigem o tráfego peatonal para os acessos principais do edifício.
No caminho em direção ao edifício o visitante desce por uma rampa suave que o leva ao hall de entrada localizado logo abaixo da grande abertura central das lajes e pode livremente dirigir-se ao restaurante ou ao foyer do auditório, que pode estar ou não fechado para o público geral. Só depois de alcançar o centro da edificação e ter uma completa leitura dos espaços que o compõe é que o visitante passa pela portaria que controla o acesso ao pavimento superior ou mesmo aos subsolos de garagem e espaços secundários.
A estratégia de localizar no térreo os espaços públicos e elevar numa lâmina simples os espaços de trabalho busca humanizar as diversas funções do edifício além de conservar energia, democratizar a forma como as pessoas se comunicam e trabalham dentro de um prédio e valorizar a maneira como este prédio se relaciona com o entorno urbano e seu ambiente cultural.